SEGUE-ME?

16 de março de 2011

Longínquo...


Você pode até dizer que não entendeu o que eu disse. Mas jamais poderá dizer que não entendeu como eu te olhei.
Se não entendeu o meu olhar, é porque teve medo de vê-lo profundamente... Medo do que ele seja capaz de fazer... ou medo do que a voz emudecida, e os lábios entreabertos poderiam ter causado..
Você tem um sério problema de distinguir o que sou e o que não sou...
Eu sou alguém que deixa as coisas livres com os ventos... se elas forem minhas, certamente voltarão...
Não vale a pena aprisionar sentimentos que não me pertencem.
Mas se por ventura, regressarem, tenha a certeza de que o lugar estará preparado, com uma recepção calorosa, um sorriso grandioso, um abraço intérmino, e um coração com um amor, que supera até a incompreensão e toda a demora.
O amor tem dessas coisas: Vê o que está fora do alcance de enxergar. Ouve o que está silenciado. Sente o que não faz sentido... Mas espera pelo inesperado... E compreende o incompreensível..
É esse misto de sentidos indizíveis que eu sinto...
Mas que pena, eu me calo... E você não faz parte desse meu mundo.


[Naná]



5 comentários:

  1. "Você pode até dizer que não entendeu o que eu disse..."

    O que pode o pensamento?.

    Para mostrar que o pensamento singular é o modo de pensar de cada um que se qualifica e organiza, que aprende a se perceber e que, a partir daí, estabelece comunicação com o outro. Muitas vezes nosso pensamento nasce do pensamento dos outros, para AFIRMAR, NEGAR OU INCOMODAR o que o outro diz. Poesia, arte, literatura, Filosofia não são meras histórias, mas método, maneira, jeito. É muito mais uma criação coletiva, que se faz junto com o outro, pelo diálogo, pela conversação, do que uma teoria que tem a pretensão de dizer a verdade, ou que, pode ser aceita porque esgotou o assunto. Nas escolas e universidades as pessoas estudam história da poesia, arte, literatura, filosofia e afins, como se a história já tivesse dito a verdade inteira. Melhor pensarmos nas possibilidades do tempo presente do que em simplesmente copiar o passado ou saber direitinho o que qualquer grande autor pensa só pelo prazer da erudição. o pensamento em comum é um livro dispositivo. Serve para ler-junto e, por isso, provoca a consciência do pensar junto. O que pode o pensamento?, no minimo ele tem que ser incomodado para existir... se mover... criar... voar...

    Por Thiago L.
    kisses in the heart

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  2. "COMO AS PALAVRAS GANHAM VIDA?"

    O nascimento da palavra.

    *O filósofo Ludwig Wittgenstein (1889-1951) é conhecido por ter desenvolvido duas filosofias bem distintas em sua vida, uma exposta na obra Tratactus Lógico-Philosophicus, de 1921, e outra em Investigações filosóficas, publicado postumamente, em 1953.

    Os dois livros são representativos no pensamento de Wittgenstein por exporem duas teorias da linguagem bem diferentes. A primeira, de que a linguagem figura o real, influenciou os positivistas lógicos do Círculo de Viena, enquanto a segunda, de que a linguagem expressa o real em suas funções práticas, contribuiu para mudar os rumos da filosofia analítica, na Escola de Oxford.

    Uma maneira interessante de verificar essa distinção é analisando o chamado "argumento da linguagem privada", que Wittgenstein, apesar de nunca tê-lo chamado com esse nome, trabalha em Investigações filosóficas.

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  3. **Linguagem e percepção
    Para a tradição filosófica desde Descartes, a linguagem se refere a um conjunto de dados dos sentidos. A frase "dor de dente", assim, se refere a uma sensação de dor que a pessoa sente em algum dente.

    Mas como saber se o que estou sentindo e chamo de "dor de dente" corresponde àquela mesma sensação que você teve e que também chamou de "dor de dente"? Ou o que você chama de "amor", será que é o mesmo referente que eu designo quando uso essa palavra? Ou ainda, quando um repórter na TV pergunta para uma pessoa o que ela está sentindo, depois de sobreviver a uma enchente, por exemplo, o relato corresponderia realmente às mesmas sensações que teríamos se tivesse acontecido conosco?

    É razoável supor que podemos usar palavras de forma equivocada, como quando digo que uma cor é "lilás" e outra pessoa diz "roxo". Estamos tendo a mesma percepção do espectro de luz? Diz o filósofo: "O essencial das vivências privadas não é que cada um possua seu exemplar, mas que nenhum saiba que se o outro tem também isto ou algo diferente. Seria pois possível a suposição - ainda que não verificável - de que uma parte da humanidade tenha uma sensação do vermelho e outra parte uma outra sensação" (IF § 272).

    Como aprenderíamos a ligar o nome a uma coisa, se o nome fosse inventado tendo como base a minha percepção das coisas? Como saber que estamos falando da mesma coisa? Wittgenstein dá ainda o exemplo da caixa contendo um besouro: "Suponhamos que cada um tivesse uma caixa e que dentro dela houvesse algo que chamamos de 'besouro'. Ninguém pode olhar dentro da caixa do outro; e cada um diz que sabe o que é um besouro apenas por olhar seu besouro. Poderia ser que cada um tivesse algo diferente em sua caixa" (IF § 293).

    Poderia também inventar um nome completamente distinto para as coisas de modo que somente eu compreendesse aquilo, como uma linguagem privada que não pudesse compartilhar com o mundo. Um vocabulário e uma gramática desconhecida dos demais, um código próprio que somente quem o criou pudesse compreender.

    O argumento da linguagem privada de Wittgenstein nega que tal coisa seja possível. Basicamente, faz isso por rejeitar a noção de que as palavras tenham como referentes diretos as sensações, que elas representariam.

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  4. ***Linguagem e comportamento
    Para o "segundo" Wittgenstein, não aprendemos que a palavra "dor de dente" significa uma sensação de dor de dente, mas aprendemos a expressar um comportamento. Em outras palavras, uma criança não aprende a essência de um dado sensível representado por um signo (a palavra "dor", por exemplo), mas como expressar um determinado comportamento, um uso prático.

    Vejam o que Wittgenstein diz: "Como as palavras se referem a sensações? (...) Por exemplo, da palavra 'dor'. Esta é uma possibilidade: palavras são ligadas à expressão originária e natural da sensação, e colocadas no lugar dela. Uma criança se machucou e grita; então os adultos falam com ela e lhe ensinam exclamações e, posteriormente, frases. Ensinam à criança um novo comportamento perante a dor" (IF, § 244).

    Quando uma criança sente dor, ela reage com uma expressão natural de dor, o choro. Mas fica muito difícil para uma mãe, por exemplo, saber se uma criança que chora está com dor de ouvido, cólica ou apenas irritada e com sono.

    Com o tempo, a criança é adestrada a substituir uma expressão natural por uma outra, simbólica. Assim, quando sente dor, usa uma frase para expressar a dor, que substitui ou complementa um grito ou choro, dizendo "Estou com dor de ouvido" ou "Minha barriga dói".

    Não somos, deste modo, ensinados a usar uma palavra para significar um objeto, mas um uso linguístico, simbólico e convencional, que pode substituir uma expressão natural para tais sensações.

    Para Wittgenstein, o significado de uma linguagem é dado em seu uso, e como são usos diferentes, ele fala em jogos de linguagem. Não aprendemos o nome das coisas, mas um comportamento expressivo que substitui o comportamento natural.

    Para concluir, a solução para o problema da caixinha do besouro: "Mas, e se a palavra 'besouro' tivesse um uso para essas pessoas? Neste caso, não seria o da designação de uma coisa. A coisa na caixa não pertence, de nenhum modo, ao jogo de linguagem nem mesmo como um algo: pois a caixa poderia também estar vazia. Não, por meio desta coisa na caixa, pode-se 'abreviar'; seja o que for, é suprimido. Isto significa: quando se constrói a gramática da expressão da sensação segundo o modelo de 'objeto de designação', então o objeto cai fora de consideração, como irrelevante" (IF § 293).

    Isso quer dizer que não importa a sensação que tenhamos - a suposta "essência" de nossa linguagem -, mas simplesmente sua função, seu uso no cotidiano.

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  5. ****Conhecimento empírico
    As reflexões de Wittgenstein o levam a concluir que é impossível falar de uma linguagem privada, pois o que se aprende não é uma palavra que designa uma coisa, mas um conjunto de regras sociais para cada uso que fazemos da linguagem. Isso tem, pelo menos, duas consequências para a filosofia analítica:

    Como a linguagem não descreve sensações de objetos físicos exteriores, não há nenhum sentido em se falar de enunciados verdadeiros ou falsos em relação à palavra com seu objeto.
    Não tendo como distinguir entre enunciados verdadeiros ou falsos em relação a questões de fato, se torna impossível fundamentar o conhecimento empírico nos dados dos sentidos, com queriam os positivistas lógicos.

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