SEGUE-ME?

8 de maio de 2011

Amizade é...



É preciso saber dosar o tempo, travar batalhas contra ele.
Há tantos detalhes que deixamos para trás. 
Detalhes dos quais nos desapercebemos que faltam em nosso presente.
É, o tempo sempre vem à tona...
Como é bom rever os amigos,
Trocar os sorrisos.
Relembrar de tantas coisas que ficaram guardadas em nosso baú de memórias e saudades.
Amigos são anjos,
Que voam conosco sem fazer questão de nos entender.
São aqueles que mesmo distantes não se perdem nas lembranças.


[Naná]



5 comentários:

  1. "As cores da amizade"

    O primeiro pensador a falar do tema “amizade” em contraposição ao amor e a ligação deste com Eros, foi Platão, para ele, na amizade não há amor, mas algo de racional, é o que os gregos chamavam de phylia (amigo). Uma amizade, diz Platão, só é autentica se for um meio para se chegar ao “bem”, quer dizer, se servir para construir o Estado - se o homem não for bom, o Estado jamais será. Assim a amizade num passado remoto era vista como algo de útil, se todos formos grandes amigos, poderá surgir daí um grande pais.

    Mas isso foi mudando, ainda no passado, Epicuro restringia a amizade a algo que tem haver apenas com duas pessoas, ela deixa de ser um meio para um objetivo social maior para ser algo que ajuda as pessoas:

    “A única ligação admitida como verdadeiramente eletiva é a amizade, como uma livre ligação que, ao mesmo tempo, une os que sentem, pensam e vivem de modo idêntico. Na amizade nada é imposto de fora e de modo não natural e, portanto, nada viola a intimidade do individuo. O epicurista vê no amigo quase um ‘outro’ si mesmo.”

    A amizade para Epicuro é o maior de todos os bens. Para alguns autores ela começa como utilidade, mas depois, ela afirmasse como comunhão de vida entre aqueles que alcançaram a plenitude do prazer.

    (Musica: Renato Teixeira - Amizade Sincera
    http://www.vagalume.com.br/renato-teixeira/amizade-sincera.html)

    Amizade pode ser vista de vários ângulos: (1) o que marca uma amizade, como ela surgi, o que constitui o dom para fazer a amizade. Pode-se abordar sua relação com o amor: da amizade entre homem e mulher, da amizade entre as mulheres. Apresentar sua relação com o poder, com dinheiro, e aqueles que tem muitos amigos. Por fim, da sua relação com sucesso na vida, assim como da questão da diluição, da recuperação e da indissobilidade da amizade.

    (1) Como surgi uma amizade?...
    Vejamos mais uma vez a Platão:

    “A verdadeira maneira de se fazer amigos é, realçar e estimar os serviços que se recebe dos outros, já que eles mesmos não os estimam e, de rebaixar os serviços que lhes prestamos para um preço menor do que eles o colocam...”

    A portanto nessa opinião um elemento de concessão, a amizade se estabelece quando restringimos nossa exigências e somos menos críticos em relação ao outro. Alguns pensadores árabes do século 8 d.C., sugeriam que: permaneça só, ou se aceitares um amigo, aceito como ele é:

    “Quem quer que represente a esperança deve-se ser seu amigo – pensou o homem-, não há amizade sem risco de perdê-la, nem esperança sem tentar adquirir a amizade, e a esperança e amizade, são antes, raras, lentas e de mau agouro, mas, sem ela os homens seriam ainda mais penosamente mais surpreendidos diante de suas desgraças.”

    Assim, enquanto seres humanos temos a esperança de construir a amizade o tempo todo.
    Entretanto as amizades podem romper-se, as relações humanas são fugidias, há sempre o perigo da inversão do amigo em inimigo.

    “Um amigo íntimo - de si mesmo.
    O amigo que se torna inimigo
    fica incompreensível;
    o inimigo que se torna amigo
    é um cofre aberto.
    A amizade é um meio de nos isolarmos da
    humanidade cultivando algumas pessoas.
    É preciso regar as flores sobre o jazigo
    de amizades extintas.
    Como as plantas,
    a amizade não deve ser muito
    nem pouco regada.
    Certas amizades comprometem
    a idéia de amizade.”

    (Poema: Carlos Drummond de Andrade - Um amigo íntimo)

    O poeta nos mostra que por meio da amizade cultivamos algumas pessoas para melhor digerir o isolamento da humanidade, e, assim é a amizade; é aquela pessoa que para nós exerce a função de amaciante, de amortecedor dos golpes do mundo. O homem numa sociedade vive numa selva do salve-se quem puder, sozinho é muito fraco para carregar sob seus ombros o peso do mundo, para isto existe a amizade para quem tem como dividir esse fardo da existência.

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  2. Todas as dores do mundo não são tão difíceis de suportar como a dor que sofre um amigo, inclusive as pessoas que por amor que nos dilaceram, mesmo isso, não é nada perto do desespero que sofre alguém que nos é caro, alguém precioso, esse alguém que acompanha nossos passos pelo mundo.

    “Estranhamente esverdeado e fosfóreo,
    Que de vezes já o encontrei, em escusos bares submarinos,
    O meu calado cúmplice!

    Teríamos assassinado juntos a mesma datilógrafa?
    Encerráramos um anjo do Senhor nalgum escuro calabouço?

    Éramos necrófilos
    Ou poetas?
    E aquele segredo sentava-se ali entre nós todo o tempo,
    Como um convidado de máscara.

    E nós bebíamos lentamente a ver se recordávamos...
    E através das vidraças olhávamos os peixes maravilhosos e terríveis cujas complicadas formas eram tão difíceis de
    compreender como os nomes com que os catalogara Marcus Gregorovius na sua monumental”

    (Poema: Mario Quintana – o poema do amigo)

    (Musica: MPB 4 - Amigo é Para Essas Coisas
    http://www.vagalume.com.br/mpb4/amigo-e-para-essas-coisas.html)

    No poema de Mario Quintana o elo que mantém as amizades, além de todas as pressões diluidoras, corruptoras e traidoras da sociedade, é a cumplicidade.

    O filosofo Nietzsche achava que o dom de “ter” é, em muitos homens, muito maior do que “ser” um bom amigo - Isso é que é raro, esse é que é o desafio - e, sobre a construção da amizade ele dizia que:

    “A boa amizade surge quando se considera muito o outro, ou seja, mais do que a si mesmo, quando também amasse o outro, mas não tanto quanto a si mesmo. Quando, por fim, sabe-se acrescentar para a facilitação do relacionamento a aparência sensível e a ternura da intimidade, mas ao mesmo tempo, guarda-se sabiamente para si a intimidade real e verdadeira e, a mistura do eu e do tu.”
    (2) Existe, além do mais, a relação da amizade e o amor, da amizade entre os sexos, ainda com Nietzsche é ele quem nos dá um sugestão nesse caso:

    “As mulheres podem muito bem estabelecer amizade com um homem, mas para manter-la, para isso, é preciso a ajuda de uma pequena antipatia física...”

    É que muitas vezes uma paixão escamoteasse na amizade, as pessoas se confundem, ao terem alguém por perto numa verdadeira amizade de sexos opostos, não raro, pouco desconfiasse que esse amigo possa ligar-se por algo muito mais que uma amizade. (Destacando Nietzsche outra vez) para não ter confusão, é preciso um pouquinho de “antipatia física”.

    Entre mulheres, as amizades podem ser muito duradouras, Pierre-Marc-Gaston de Lévis dizia que: Diz-se muito que as mulheres são inconstantes no amor, mas não se diz o quanto são constantes na amizade. Mas isso, não é exatamente o que acha Mario Quintana:

    “Dizem-se amigas... Beijam-se... Mas qual!
    Haverá quem nisso creia!
    Salvo se uma das duas, por sinal,
    For muito velha, ou muito feia...”

    Então caímos outras vez na frase do filosofo, tem que haver “antipatia física”. Isso por que amizade é necessariamente algo diferente do amor ou da inveja. Vejamos o que nos diz Jean-Paul Sartre:

    “A amizade, esse uníssono do peito, quando uma mesma corda esticada de um coração de outro, vibra sobre ambos, esta amizade é mais generosa que o amor, mais rara e maior que o amor do qual todos os seres humanos são capazes.”

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  3. (4) Por fim, falemos da relação da amizade com a existência, do desaparecimento dos amigos, com a noção de eternidade na amizade.

    Uma amizade não pode ser explicada, comentava o filosofo Montagne em seus ensaios, essa correspondência intima e profunda entre dois seres excede as razões que se poderia dar, a amizade para ele, era algo que não tem lógica mas que é evidente do ponto de vista afetivo.

    (Musica: Patricia Kaas - Chanson simple (Canção simples)
    http://www.vagalume.com.br/patricia-kaas/chanson-simple.html#traducao)

    A busca da redescoberta, do reencontro, da recuperação de um antigo amigo, é um tema constante quando se fala da amizade. Na falta do amigo, lamentamos o afastamento daqueles que tínhamos e que por algum motivo nos deixaram, os falsos amigos nos abandonam quando caímos em desgraça e, é ai que se mede a amizade. Ao ver o nosso amigo desgraçado pode não restar ninguém além de nós pata resgatá-lo para a vida.

    É por que quando descemos ao fundo do poço, em nossa mais pura miséria social e humana, quando o mundo nos expulsa de sua convivência, quando nos despimos de nossas mascaras sociais, é exatamente nesse momento, que se pode constatar a existência dessa ligação, solidaria além das aparências.

    Amizades não são encontros intencionais, Formam-se através daquilo que Goethe chamava de “afinidades eletivas”, ou seja, as ligações que se constituem entre as pessoas a partir da semelhança entre suas naturezas, das concordâncias em que se encontram entre suas almas e espíritos.

    Mas não se pode negar que as amizades são contextuais e históricas, isto é, elas se constituem em certas circunstancias em que as pessoas vivendo juntas sentem necessidades de outras para compartilhar seus temores, suas preocupações, suas angustias, e que uma vez suprimido esse contexto, uma vez transformado a situação de vida, quando mudamos de ocupação, profissão e lugar, essas amizades dificilmente permanecem. As antigas amizades sobrevivem da lembrança de antigas vivencias, revêem-se as velhas pessoas, lembram-se situações e curiosidades, mas ainda assim, da amizade, parece faltar o solo. Ela permanece presa numa temporalidade mística e real que sobrevive com saudosismos - um dia tudo se esvai.

    (Musica: Milton Nascimento - Morro Velho
    http://www.vagalume.com.br/milton-nascimento/morro-velho.html)

    Nas amizades velhas em que o solo histórico e contextual desaparecem, em que ela sobrevive pelo saudosismo do tempo passado, há uma sensação amarga de desaparecimento. No retorno ao mundo atual, na distancia da velha amizade parada no tempo emerge a tristeza, tristeza pela impetuosidade do tempo que não é complacente com a fantasia romântica das eternas ligações.

    Afinal, por que Honoré Balzac falava das amizades indissolúveis (?):

    “O que torna a amizade indissolúvel, e dobra seu charme, é um sentimento que falta no amor: a certeza.”

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  4. Alimentamos uma certeza na perpetuidade da amizade, mesmo sabendo que a vida que cada um leva nos afasta obrigatoriamente dos antigos relacionamentos. O simples fato de viver significa que mudamos, que trilhamos novos caminhos, que nossos amigos de outrora não necessariamente nos acompanha; nem em vivência e nem em idéias. E nossa relação com eles vai se tornando cada vez mais anacrônica, só sobrevivendo por um certo romantismo, de crenças na sobrevivência extemporânea das amizades. Mas nada sobrevive fora do tempo, alguns amigos nossos morrem, as vezes preferíamos não registrar sua morte e manter-los imaginariamente perto de nós.

    "Anunciaram que você morreu.
    Meus olhos, meus ouvidos testemunham:
    A alma profunda, não.
    Por isso não sinto agora a sua falta.
    Sei bem que ela virá (Pela força persuasiva do tempo).
    Virá súbito um dia,
    Inadvertida para os demais
    Por exemplo assim:
    À mesa conversarão de uma coisa e outra
    Uma palavra lançada à toa
    Baterá na franja dos lutos de sangue.
    Alguém perguntará em que estou pensando,
    Sorrirei sem dizer que em você,
    Profundamente.
    Mas agora não sinto a sua falta.
    É sempre assim quando o ausente Partiu sem se despedir:
    (Você não se despediu.)
    Você não morreu: ausentou-se.
    Direi: Faz tempo que ele não escreve.
    Irei a São Paulo: você não virá no meu hotel.
    Imaginarei: Está na chacrinha de São Roque.
    Saberei que não, você ausentou-se.
    Para outra vida?
    A vida é uma só. A sua vida continua
    Na vida que você viveu.
    Por isso não sinto agora sua falta."

    (Poema: Manuel Bandeira - A Mário de Andrade de Ausente)

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  5. Nas escrituras de Digha nikaya que datam de 400 a.C. fala que: “não devem ser tomados como amigos aqueles que só se aproveitam da amizade, que só ficam nas palavras, que só adulam e nos levam a ruína, muitos se dizem amigos, mas a verdadeira amizade não fala, mas faz”. O discurso muitas vezes serve para escamotear uma ausência real de interesse. Entretanto, existe uma amizade que não se revela explicitamente, e sim por meios de nossos atos, pois de alguma maneira procuramos demonstrar que o espírito da amizade de fato é real, e que a relação formal não fora instituída. São esses os amigos que nem se quer se sabem que são nossos amigos, mas que nós por meio de nossas atitudes os elevamos a essa condição; uma amizade sem carteirinha, amizade sem rotulo, amizade no simples ato de tratar bem o outro, simplesmente porque assim nos sentimos melhor no mundo


    "Tenho amigos que não sabem o quanto são meus amigos.
    Não percebem o amor que lhes devoto e a absoluta necessidade que tenho
    deles.

    A amizade é um sentimento mais nobre do que o amor,
    eis que permite que o objeto dela se divida em outros afetos,
    enquanto o amor tem intrínseco o ciúme, que não admite a rivalidade.

    E eu poderia suportar, embora não sem dor,
    que tivessem desaparecidos todos os meus amores,
    mas enlouqueceria se desaparecessem todos os meus amigos!

    Até mesmo aqueles que não percebem o quanto são meus amigos
    e o quanto minha vida depende de suas existências ...

    A alguns deles não procuro, basta-me saber que eles existem.

    Esta mera condição me encoraja a seguir em frente pela vida.

    Mas, porque não os procuro com assiduidade,
    não posso lhes dizer o quanto gosto deles.
    Eles não iriam acreditar.

    Muitos deles estão lendo esta crônica e não sabem
    que estão incluídos na sagrada relação de meus amigos.
    Mas é delicioso que eu saiba e sinta que os adoro,
    embora não declare e não os procure.

    E às vezes, quando os procuro,
    noto que eles não tem noção de como me são necessários,
    de como são indispensáveis ao meu equilíbrio vital,
    porque eles fazem parte do mundo que eu, tremulamente construí,
    e se tornaram alicerces do meu encanto pela vida.

    Se um deles morrer, eu ficarei torto para um lado.
    Se todos eles morrerem, eu desabo!

    Por isso é que, sem que eles saibam, eu rezo pela vida deles.
    E me envergonho, porque essa minha prece é, em síntese,
    dirigida ao meu bem estar.
    Ela é, talvez, fruto do meu egoísmo.

    Por vezes, mergulho em pensamentos sobre alguns deles.
    Quando viajo e fico diante de lugares maravilhosos,
    cai-me alguma lágrima por não estarem junto de mim,
    compartilhando daquele prazer ...

    Se alguma coisa me consome e me envelhece
    é que a roda furiosa da vida não me permite ter sempre ao meu lado,
    morando comigo, andando comigo, falando comigo, vivendo comigo,
    todos os meus amigos, e, principalmente,
    os que só desconfiam ou talvez nunca vão saber que são meus amigos!

    A gente não faz amigos, reconhece-os."

    (Poema: Vinicius de Moraes - amigos)

    Por Thiago L.
    kisses in the heart

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