SEGUE-ME?

25 de junho de 2011

Seja Essência!


É preciso aprender na vida a se desprender das coisas assim como as folhas das árvores, que caem no outono, a fim de dar início à um novo ciclo; e que esse ciclo contenha apenas o que realmente tem como primazia, nada mais nada menos, do que a própria essência.
A essência impede que o "direito de ser como se é" seja burlado, e que nos percamos dentre os caminhos errôneos da superficialidade.


[Naná]







13 comentários:

  1. A apresentação tem como objetivo discutir um tema que é razoavelmente difícil, é sobre a questão da possibilidade de pensar um mundo que não tem finalidade, que não tem uma ordem moral, seja ela transcendente ou imanente.

    Para começar tal discussão inicialmente é necessário olhar suas origens, mais precisamente a partir da historia da filosofia, para assim termos uma melhor condição de pensar sobre o problema e ver a desconstrução dessa mesma idéia e porque da dificuldade de refletir, porque, afinal de contas, se não existia um sentido para o mundo, se não existia uma finalidade, um propósito, uma razão de ser, se não há fundamentos ou argumentos pelos quais nos seriamos capaz de direcionar a nossa ação, nossa conduta, o que é que orientaria a nossa ação e o viver? Sem isso não haveria um mundo sem sentido, desnorteado, niilista, desencantado, sem esperança, caótico e absurdo?

    Essa questão que provoca nossa reflexão no tempo em que vivemos atualmente, certamente apesar dela estar sendo muito discutida, essa é uma questão histórica.

    Talvez para responder essa indagação, teríamos que pensar primeiro o que é um mundo com ordem moral, o que significa pensar um mundo com finalidade e com sentido. É necessário começar a voltar lá no pensamento dos filósofos gregos, que nos remete inevitavelmente a formulação socrática-platonica, ali, talvez, seja o primeiro momento de uma tentativa de estabelecimento com um conjunto de fatores pelos quais podemos pensar a realidade em termos de algo que exista necessariamente uma verdade e em decorrência dessa verdade uma conduta moral, uma ação a qual deveria nos guiar e conseqüências dessas ações.

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  2. Esse primeiro movimento, - na qual veremos isso em etapas-, e aqui será nomeado como primeiro momento socrático–platonico, você nota um esforço em afirmar que, somente a razão pode de fato compreender o mundo, e apenas ela pode dizer o sentido das coisas (embora essa idéia já venha desde os primeiros filósofos chamados de pré-socráticos, ela assume um maior fôlego a partir da leitura que Platão faz de Sócrates). Platão procura mostrar que esse mundo, no fundo, é de aparências e de ilusão (para que fique mais claro basta lembrar-se da alegoria do “mito da caverna” na qual diz que, somos pessoas que vivemos aprisionadas nas sombras, na ilusão, nos equívocos, nas crenças, nos preconceitos, etc.), e na realidade o processo pelo qual deveríamos sempre passar seria um processo de libertação desses grilhões (para sair dessa caverna) que levaria a uma compreensão das coisas efetivamente como são, as suas idéias e formas fundamentais. Tendo esse conhecimento, ele poderia revelar a verdade e assim a uma ação correta na existência e no mundo verdadeiro.

    Há sem duvida nesse primeiro movimento um esforço em conhecer a verdade e aplica-la em termos de uma transformação ética-politica junto com um conjunto de valores que deveriam ser seguidos. Essa seria a grande tarefa dos filósofos gregos ao ajudarem a cada um de nós a percorrer tal processo.

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  3. Essa primeira fundamentação ira ser extremante influente na nossa cultura Terá suma importância para o desenvolvimento do pensamento ocidental, em particular quando houver a fusão dessa idéia com a concepção judaico-cristã, na qual poderíamos chamar já de segundo momento da historia da fundamentação da verdade, moral e sentido do mundo.

    Agostinho, de certo modo, vai reinterpretar Platão e ira trazer a premissa de que não somente esse conhecimento efetivamente existe e esta disponível, e que esta presente em cada um de nós, é necessário, portanto, que recorremos a essa verdade fundamental e, isso também implicaria um conjunto de valores verdadeiros e uma orientações de conduta a seguir -quem não sabe disso é que na realidade ignora a verdade. No entanto é importante entender que em santo Agostinho tem algumas coisas que são interessantes e novas, como, por exemplo, a idéia filosófica de um tempo linear, ou seja, há um momento em que o tempo começa (o nascimento, a vida)– isso vem da tradição judaica e agora esta sendo formulada filosoficamente por Agostinho-, depois um momento de clímax (que é a vinda do messias) e por fim um tempo final (que é o juízo final).

    Conclui-se então que há sentido para a vida, existe um tarefa nesse percorrer da existência, uma verdade a ser descoberta, por conseguinte uma conseqüência dessa ação sobre essa descoberta - ainda que não saibamos, Deus sabe o que faz.

    (se repararmos há mesma estrutura reproduzida, se inicialmente tinha-se o aparente e o mundo verdadeiro [pelo qual chegaríamos através do mundo das idéias] e sendo necessário conhecer esse verdadeiro para saber bem agir, agora. outra vez, se tem a mesma estrutura, mas esse aparente seria o corpo, o desejo, o material, em suma, o mundo do pecado que se nos entregarmos a ele, certamente agiremos de uma maneira inadequada).

    (em função disso, boa parte da nossa construção subjetiva, a própria organização da sociedade, da cultura vai se pautar em cima desses princípios.)

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  4. Contudo, no terceiro momento dessa historia, Parecia que todo o movimento da modernidade, - certamente os homens modernos num primeiro ocasião por oposição ao período medieval, na qual foi chamado pelos próprios iluministas de período das trevas-, dizia: agora nós temos racionalidades! Nos temos ciência! , que no fundo queria dizer mais ou menos o seguinte: que você é um sujeito, que racionalmente pode-se orientar de um jeito racional, autônomo e livre, que deve ajudar na construção para a sociedade, para a justiça, democracia, ciência, ser um bom cidadão, um bom pai de família, alguém honesto, alguém criador, que contribui para um sentido e significado para esse mundo e a própria existência, enfim, que ajuda para uma sociedade melhor.

    Claro que alguns protagonistas colaboraram pra essa historia como Descartes, Kant, Hegel entre outros autores iluministas que nos fizeram pensar na idéia de que existe uma verdade a ser descoberta.

    É curioso que um dos famosos textos do Kant sobre o esclarecimento ele inicia exatamente com essa passagem:

    “Esclarecimento é à saída do homem de sua menoridade, da qual ele próprio é culpado”

    E o que é essa menoridade? é não poder ter autonomia de responder pelas suas próprias ações e não saber o que fazer e assim não ajudar na construção dos alicerces mencionados (para um mundo melhor).

    Se agora não é mais para um futuro que se espera para um outro lugar como era no cristianismo – embora essas idéias ainda persistam-, agora se contribui para um mundo que é efetivamente mais aperfeiçoado em vida numa modernidade que nos prometo uma sociedade nunca vista antes.

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  5. O problema é que muita duvida e muita desconfiança se desenvolveu sobre essas mesmas questões, especialmente no século passado. parece que houve algumas experiências de desencanto do projeto da modernidade (embora ela tenha seus antecedentes filosóficos).

    Talvez os seus efeitos só efetivamente viessem a se sentir na cultura, arriscaria dizer, após o pós-guerra, quem sabe, ali naquele momento os homens se tenham dado conta, um pouco, de que acreditar na ciência, na tecnologia, no progresso, numa sociedade justa, livre e democrática, na aquisição de conhecimento acumulado que é próprio da modernidade que tinham esses pilares e referenciais, não pode evitar catástrofes inomináveis como Auschwitz e Hiroshima, não impediu absurdos inomináveis dos quais não conseguimos se quer lembrar.

    Num momento de cenário do pós-guerra, a gente começa a ter algo diferente acontecendo, onde a sociedade começa a ser perguntar, afinal de contas “qual é o sentido?”, “qual é o propósito?”, e essas duvidas vem sendo cada vez mais infiltrada na cultura contemporânea.

    Parece que ainda hoje acreditamos na democracia e nos esperamos que ela de fato possa resolver nossos problemas, mas, a gente tem certa duvida, onde, afinal de contas, a democracia não seria apenas um jogo de interesses político-econômicos? Nós votamos em representantes, mas que isso fará alguma diferença?

    Parece que a gente acredita na justiça, mas, de algum modo, todo mundo tem certa duvida se a justiça realmente não é cega, ou se ela não acaba beneficiando que tem dinheiro no bolso para pagar os melhores advogados,

    Parece que ainda acreditamos na ciência, mas, a gente também tem duvida se a ciência não esta atrelado a interesses macroeconômicos de empresas que se beneficiam com os seus produtos, ou se a ciência é realmente usada para o bem estar da humanidade, atualmente se perguntamos sobre a aplicação ética desse conhecimento cientifico.

    Mas, espera lá, tem verdade, tem uma moral por traz implícita, tem finalidade, tem sentido? Vale apena acreditar que o meu trabalho, meu conhecimento, minha racionalidade? Meu esforço vai mudar vai mudar alguma coisa?

    As pessoas têm duvida a respeito e o mesmo tempo há o medo, talvez, que o medo advém da duvida de que, será que conseguiríamos viver sem acreditar em alguns valores mesmo que sejam precários, ainda que duvidosos? Será que sem isso não haveria um caos, uma aleatoriedade, um absurdo ainda piores? Seria possível um mundo sem ordem moral, sem finalidade? Como viver nesse mundo, ele não seria niilista e desencantado?

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  6. Contudo, certamente essas questões foram antecipadas.

    E neste caso vale apena lembrar de alguns autores, que fizeram grandes criticas da pretensão do projeto moderno dele próprio dar sucesso e atingir todas as suas promessas.

    Sem duvida Schopenhauer, no limiar da modernidade, escrevia contra o projeto hegeliano na época em que Hegel era o filosofo de peso e proeminência no cenário internacional.

    Hegel, em sua época, estava dizendo exatamente o que todo mundo procurava ouvir num momento pós-revolução francesa na qual se ficava extremante empolgado com as reformas pós-napoleonicas, onde se iria criar e fazer um Estado-nação, ter constituição, direitos, deveres, cidadania, acabar com o antigo regime, ter mais conhecimento e ciência, enfim, tudo num desabrochar de uma mundo melhor.

    Por outro lado, Schopenhauer já estava lá dizendo: olha, nós não somos racionais, o mundo não tem finalidade, não estamos caminhando em direção a lugar nenhum, no fundo somos movidos por uma força cega e irracional, que ele chama de vontade.

    Já existe, portanto algo que recusa a idéia de um projeto racional, direção, de sentido, de ordem, de finalidade, de um projeto que possa ser perfeitamente orientado pela racionalidade e que daria um aperfeiçoamento da sociedade.

    E claro que ninguém deu atenção para Schopenhauer naquela ocasião, e aquilo era de fato muito difícil de ser ouvido naquelas circunstancias, no entanto vale notar que ali já houve um primeiro movimento de desconstrução desses pilares modernos.

    Outro autor que também antecipa essa discussão é Karl Max no momento que ele recusa qualquer transcendência (embora Schopenhauer também faça isso), mas, parece que em Max não é tão claro a idéia de que estamos caminhando numa direção de um mundo melhor, ele meio que esta dizendo: muito interessante essa idéia do liberalismo, da livre iniciativa, do livre comercio, é interessante essa idéia de justiça, de democracia, etc., mas isso ai parece ser muito interessante pra quem tem dinheiro no bolso, por que, afinal de contas, que não tem esta sendo explorado e, talvez a gente precise ter outro olhar sobre este problema, não existe uma moralidade implícita na vida, precisamos ter consciência real da situação de exploração das pessoas e isso nos ofereceria um tipo de horizonte de ação diferenciada no mundo”, Max suspeita que boa parte desses discursos seja apenas ideologias para satisfazer as classes dominantes,

    Freud (cuja influencia é Schopenhauer) também suspeita do fato de que: olha você supõem que é racional, consciente, autônomo e livre, mas na verdade tem uma vontade e elementos inconscientes e uma serie de outras coisas por traz do que você faz, do que você quer, do que você diz e você não esta se dando conta e esta se iludindo.

    Nietzsche esta chama a atenção para um serie de outros problemas que fala que: por traz de toda verdade e toda moral exista muito mais um conjunto de relações de poder, há um genealogia na qual nos submetemos através verdades e acabamos que sendo produzidos por elas.

    Outros autores apontam que de bom agrado acreditamos em coisas que, talvez, foram muito mais do à realidade poderia nos oferecer e que pretenderíamos alcançar e, sendo assim, até que ponto não falsificamos a vida.

    Hoje em dia é cada vez mais difícil de responder com facilidade a tais perguntas e, essas dificuldades que nos levam a pensar, por que trabalhamos, por que fazemos o que fazemos? Será que á vida tem um sentido? Será que a gente não se auto-educa para acreditar naquilo e na realidade é uma mentira que gostamos de acreditar?

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  7. O problema hoje dessa experiência, da dificuldade de lidar com o niilismo, ele em uma serie de questões nossas.

    (o niilismo tem haver com essa redução ao nada, com a idéia de que não há finalidade, não há propósito, em ultima análise, nada vale apena, parece que tudo é igual a qualquer coisa.)

    Recordemos do trecho da musica “Teatro Dos Vampiros” que fala a respeito desses elementos do niilismo, de um dos grandes poetas da musica brasileira:

    “Sempre precisei de um pouco de atenção
    Acho que não sei quem sou
    Só sei do que não gosto.
    E destes dias tão estranhos

    Fica a poeira se escondendo pelos cantos
    Esse é o nosso mundo:
    O que é demais nunca é o bastante
    E a primeira vez é sempre a última chance.
    Ninguém vê onde chegamos:
    Os assassinos estão livres, nós não estamos.”

    Aqui podemos ver uma serie de elementos.

    “Sempre precisei de um pouco de atenção, Acho que não sei quem sou Só sei do que não gosto.”, esse é o problema da identidade. afinal, como é difícil pensar quem se é nesse cenário. A sociedade de consumo tem produzido subjetivamente pessoas que acreditam que sua identidade esta ligada efetivamente ao conjunto de produtos e serviços que são capazes de consumir e colecionar, e que de alguma maneira, e cada vez mais, vamos que fazendo disso um estilo de vida, sendo muito comum as pessoas se sentido mal, deprimidas, ou tristes estão indo para o shopping.

    "Esse é o nosso mundo: O que é demais nunca é o bastante", temos o problema da compulsão. Parece que a gente vive num processo onde a compulsão e as medicalizações são uma válvula de escape da falta de sentido do mundo. Diante do fenômeno do consumismo e da morte dos grandes referenciais, de uma ordem moral e uma finalidade, atualmente a questão de entregar-se compulsivamente ao consumismo é uma forma de fugir bastante sedutora, parece um modo pelo qual muitos, talvez, procurem re-significar o sentido para a própria existência e, que por essa tarefa teríamos a capacidade, de alguma maneira, manter o fluxo da vida, ou seja, o indivíduo continua trabalhando por que assim ele vai comprar alguma coisa e aquilo ira levá-lo pra algum, depois compra-se de novo e mais outra vez e assim sucessivamente, isso meio que aplaca a angustia da existência, no entanto mesmo o trabalho, esta um tanto que desacreditado, há percepção que é uma coisa absolutamente mecânica, uma coisa que se repete, se repete, se repete como uma copia que parece tudo igual a qualquer coisa.

    Outro elemento é a questão do sofrimento, na ausência de significado para a própria vida, faz surgir um processo de medicalização constante, isto é, se você se sente mal vai tomar um remédio. Nós queremos e buscamos "pílula da felicidade", pois ela vai nos tornar mais feliz, isso ira resolver nosso problema, assim iremos continuar trabalhando e tentar dar algum sentido para a vida ou pelo menos tentar suporta-la.

    Mais um aspecto que vale mencionar também é sobre a necessidade e compulsão sobre informação. Freqüentemente compulsivamente queremos mais informação estar a par das "novidades", as pessoas não sabe muito bem por que querem saber determinada coisa, mas elas querem saber o tempo todo o que esta acontecendo. Talvez, seria uma maneira de lidar com a dificuldade de experimentar perguntas fundamentais (outra válvula de escape),

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  8. “O que é demais nunca é o bastante E a primeira vez é sempre a última chance”, hoje vivemos num processo de transitoriedade, de intensidade, de velocidade onde parece que todas as experiências aparecem como a ultima alternativa, sempre. Tudo tem que se vivido intensamente agora e rápido, no lugar que se mostra qualquer coisa de espetacular não se deve perder tal experiência, e as pessoas cobram isso de você o tempo todo dizendo, “você não sabia”, “você não foi a tal lugar”, “você não viveu tal coisa”, “você não sentiu isso”, parece que cada vez mais somos produzidos para sermos colecionadores de experiência compulsivamente repetidas, essa maneira viver, suspeitasse que fosse construída para que não pensasse sobre os problemas

    "Ninguém vê onde chegamos: Os assassinos estão livres, nós não estamos.” aparentemente toda essa prisão seria uma maneira, quem sabe, de criar ainda que estranhamente, uma nova ordem moral para o mundo.

    Em maior ou menor escala, são questões nossas, já que estamos infiltrados na mesma cultura

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  9. Apresentado as origens dessa questão histórica até a contemporaneidade, voltemos à pergunta inicial e a partir dela pensar alguns elementos:

    Se efetivamente essa ordem moral não existir numa dimensão transcendente ou se ela não for capaz de for percebida, se não existe finalidade no mundo, se não há nada pelo que nos orientaríamos, ainda sim agiríamos do mesmo modo que agiríamos hoje? Ou seja, sabemos por que fazemos o que fazemos? Ou na realidade criamos um discurso pelo qual fingimos que acreditamos e atualmente somos dominados por uma lógica que nos produz em termos de subjetividades consumistas que colecionam estilos de vida e experiências - justamente para preencher ou a escapar a esse vazio da existencial, desse vazio de se perguntar sobre a possibilidade de agir de outro modo?

    Nietzsche realizou um diagnostico a respeito e também meio que antecipou esse problema, é claro que lá em Schopenhauer já tem uma dissolução da idéia de racionalidade e de um projeto, mas vale lembrar que Schopenhauer acreditava que havia um significado moral para o mundo e que é preciso descobri-lo na imanência, para ele isso tinha haver com a compaixão, Nietzsche ao contrario recusa esse diagnostico ao dizer que de fato tal coisa não há e, ainda que haja não seriamos capaz de dizer que coisa seria essa, em ultima análise, teríamos que enfrentar o fato de que sozinhos precisamos assumir escolhas, afirmar afetos, possibilidades, potencias estar em pé diante da vida e se perguntar sobre, por que eu faço o que faço - mesmo que não exista isso ou aquilo? De que modo posso me tornar aquilo que sou (“torna-te o que és”) (expressão paradoxal, que vem lá dos gregos, de Pindaro, e a qual Nietzsche popularizou).

    Parece que a gente tem dificuldade em lidar com o sofrimento. Se repararmos nas tragédias gregas - aquele espírito trágico anterior a influencia socrática-platonica da qual Nietzsche analisa-, elas pensavam que a vida realmente era trágica e que as coisas aconteciam como eram para acontecer por que era o modo de ser das coisas, era como que fluxo de uma luta conflituosa entre Apolo e Dionísio que nos levava ao um mundo que não necessariamente era bom, justo ou honesto, mas apesar disso não nos levava a lugar nenhum.

    No entanto essa idéia é insuportável, basta pensar na premissa de que não há nada mais absurdo do que um sofrimento sem sentindo, isto é, é fundamental dar sentido ao sofrimento humano, aparentemente esse esforço em dar sentido ao sofrer (seja porque existe uma verdade a ser compreendida numa outra dimensão [no mundo das idéias] e recusando essa busca permaneceríamos presos em meios as aparências, seja porque no plano de Deus esse sofrimento nos promete alguma possibilidade futura e não orientar-nos por esse plano, de algum modo, ele estaria punindo e castigando, seja porque há um compromisso com uma sociedade mais justa, livre e democrática e não aceitar esse comprimento determinados males ainda continuariam a persistir para si mesmo e geração posteriores), sistematicamente se justifica dizendo que se sofremos agora, talvez, e alguma maneira, tenhamos a recompensa pelo aquilo que passamos.

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  10. Será que conseguimos olhar a vida sem essa perspectiva moral, sem que necessariamente seja visto desse jeito - independente do lugar, situação financeira, possibilidades, dificuldades, conflitos, angustias, medos, etc.? É notemos que ao fazer esse diagnostico e colocar essa pergunta o próprio Nietzsche vê que isso é um risco é um perigo gravíssimo por que isso poderia levar a um buraco sem fundo, poderia nos levar a um mergulho na ausência completa de valores, a falta de finalidade radical, nos levaria ao niilismo. Ele descreve tal coisa, por exemplo, na figura dos últimos homens (no prólogo de “Assim Falou Zaratustra”) falando que

    Tomam pequenas dozes de "veneno" para suportar sua existência a qual lhes "proporcionam sonhos agradáveis", eles não tem "Nenhum pastor", e são como "um rebanho! Todos querem o mesmo, todos são iguais", se esfregam uns nos outros "porque necessitam (de) calor.", os últimos homens são aqueles que olham uns para outros e dizem "Descobrimos o que é a felicidade (...) - piscando o olho - (...) não é mesmo"

    Ou seja, um auto-engano sistemático para que possamos escapar de uma pergunta fundamental sobre o sentido da nossa existência. Esses homens em parte somos nós.

    Esses últimos homens, eles esqueceram "Que vem a ser o amor, a criação, o ardente desejo, a estrela?", eles não mais tem o "caos dentro de si para dar à luz uma estrela cintilante.", não são mais capazes de criar, por que esta tudo certo, esta tudo explicado, esta tudo pronto, afinal, nós já resolvemos o problema da felicidade “não é mesmo”

    Para Nietzsche os últimos homens é a decadência final, a radicalização dessa experiência, mas ele fala que ainda temos um “solo fértil”, nós ainda somos capazes de um outro tipo de ação no mundo. Essa possibilidade Zaratustra oferece como um presente a dar aos homens, a mensagem da superação do homem, o além do homem, da possibilidade da “transvaloração” dos valores, da possibilidade de que experimentando radicalmente a duvida sobre o sentido da vida sobre como vivemos.

    No entanto, somos capazes de fazer essa pergunta hoje em dia originalmente? A resposta é que não, originalmente temos muita dificuldade de fazer esse tipo de pergunta, em geral ela acontece em momentos de crise, em momentos de angustia em que somos levados a rever toda uma trajetória pela qual nos guiamos, pois a possibilidade de se colocar esse tipo de questão significaria problematizar a sua identidade, problematizar a sua relação consigo mesmo e com o mundo, problematizar todo um projeto de existência que temos de recusar de algum modo, e talvez fizer outra coisa...

    Geralmente cogitamos a possibilidade de fazer essa indagação até as ultimas conseqüências quando estamos bem próximos da morte real.

    (Sócrates refletindo lá diante da morte se questionando qual o sentido da sua existência, certamente fez essa reflexão. não a toa que a musa da filosofia marca uma coisa que nos é bastante convidativo ainda hoje.)

    Isso significa pensar não somente pelo o que vale a pena morrer, mas acima de tudo, pelo que vale a pena viver e, ainda que se viva com os mesmos valores que Platão propôs ou como o cristianismo propôs, ou os da modernidade propôs. Somos capazes de perguntar a nós mesmos a respeito da geanologia desses valores? Dito de outro modo, o que faz com que afirmemos tais valores como princípios pelos quais deveríamos orientar-mos, as verdades fundamentais que deveríamos seguir? Isso é só porque, afinal de contas, é a “verdade” e teríamos que nos submetermos a ela? É apenas porque Deus disse e temos que aceitar? Ou porque isso é simplesmente ser um bom cidadão e todo mundo hoje espera de você o politicamente correto?

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  11. Contudo, ainda que não existisse nada disso, ainda que possamos olhar a vida para além de todas essas construções, mas viver nessa mesma vida e afirmá-la, seriamos capazes de dizer que: eu agiria do mesmo modo que faço, eu continuaria trabalhando nessa mesma loja de conveniência? Eu buscaria outro sentido, outra conduta? Eu saberia criar valores?

    Nietzsche chama a atenção de que toda sociedade criou sempre para si mesma valores como, por exemplo, o bem e o mal. o problema é que isso sempre foi um ato criativo e afirmativo da própria vida, o a dificuldade é que nós nos esquecemos disso.

    Tal questão é muito difícil, talvez você chegue à conclusão que vá agir da mesma maneira (e isso maravilhoso!) ou não.

    Acima de tudo, o grande desafio seria formular esse tipo de questão e perceber que essa pergunta só pode ser feita por cada um de nós, poderia objetar-se “ah, mas será que vai dar certo se todo mundo fizer isso?”, só nós somos capaz de fazer individualmente esse tipo de pergunta e, a partir dali ter uma oura capacidade de trato com nós mesmo e com o mundo, isso implica enfrentar o fato de que talvez não haja respostas verdadeiras e nem a melhor resposta.

    Muita gente quando se coloca essa indagação imediatamente pensa “mas, qual a resposta certa?” (mas você já se perguntou sobre isso). Em geral queremos a proteção e a segurança da resposta certa, do conforto. É mais cômodo e confortável ter uma resposta definitiva e fundamental. E sem duvida essa uma das explicações (obviamente que não é a única) para o surgimento do fundamentalismo contemporâneo que seria o outro lado dessa mesma moeda (por que, se por um lado você tem o consumismo cujas pessoas escapam a perguntas acerca da sua própria existência num acumulo de intensidades de experiências, ao mesmo tempo essa angustia poderia levar para um outro lado que não são tão antagônicos), e essa mesma moeda diz: “olha, ou optamos pelo consumismo, ou vamos parar de falar nisso por que nós já temos a resposta e, ela é fundamental e definitiva”,

    Parece que o fundamentalismo nos seduz atualmente, e lembrando que o fundamentalismo não é uma coisa de árabe, o fundamentalismo esta em nossas esquinas, pois todo mundo conhece um fundamentalista, é aquela pessoa que não é capaz de pensar sobre coisa alguma por que já tem a resposta fundamental, por que ela já sabe qual é verdade, ela já sabe o que fazer, alias se você começar falar sobre isso perto dela ela é capaz dela se incomodar e provavelmente você recebera uma ameaça - uma não ameaça é que a vida continue ordenada com uma finalidade-, ou seja, o fundamentalismo também pode ser entendido como uma válvula de escape pra essa angustia existencial e niilismo, é um jeito de lidar com a dificuldade de fazer escolhas, da dificuldade de tomar decisões.

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  12. O que Nietzsche nos dá é a idéia de entrar em contato com alguma coisa que é a nossa própria vontade, é o nosso instinto mais forte, da possibilidade de manifestação de afetos positivos e, não simplesmente que sempre que possamos recorreríamos à mesma velha e boa estratégia de justificar o sofrimento por meio de explicações transcendentes, justificações espirituais, ou em direção a um mundo melhor, ou recorrer da estratégia da vingança e do ressentimento, ou seja, por que muito de nós não conseguimos, não queremos, não podemos, temos medo, por que fugimos desse lugar da escolha, da decisão, da afirmação, simplesmente, em conseqüência, produzimos valores ressentidos, valores negativos, dizemos “não isso ai não é bom, eu nem quero isso, afinal de contas quem faz isso é mal, é cruel, é ruim, vai para o inferno, é um mau cidadão é maluco etc.” justamente para se por como superior- quando na realidade é o contrario.

    Precisamos reconhecer a possibilidade de estamos errados, e de precisamos mudar o horizonte das nossas decisões e escolhas e para isso é necessário um altíssimo grau de coragem, um altíssimo grau de disponibilidade para se fazer e refazer, para se descobrir, para encontrar outras possibilidades de ser e viver nesse mesmo mundo tão estranho e caótico, significa um certo estranhamente de si mesmo e das coisas, esse estranhamento que é tão fundamental a filosofia. Talvez o nosso grande desafio hoje seja pensar e transformar essas possibilidades de vida em alguma outra coisa que nos torne em outros homens, como Nietzsche nos fala, é a superação da condição da condição humana, na possibilidade de outros valores...

    Por Thiago L.
    kisses in the heart

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  13. (obs.:o texto que meio saiu cheio de falhas de pontuação, de palavras e vocabulabulos repetidos, [devido ao fato de eu estar um pouco exausto de escrevelo- mas, ainda sim satisfeito ], creio que na hora de postar não percebi, e só agora quando o revi, notei isso. contudo, acho que a ideia central esta facil de captar. qualquer duvida a respeito pode perguntar, alias, esse é o proposito da reflexão, ou seja, se você concorda ou discorda de alguma premissa, se gostaria acrecentar ou melhorar algo, ou quem sabe escrever tambem a respeito... fica a sua escolha e seu criterio decidir. porem, note que o texto e suas ideias contidas vai ser, talvez, ineficaz se você apenas ler, assim tambem como a filosofia é inutil pra quem faz só a sua leitura)

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