Mais uma carta, ousada. Ousada porque é um enfrentamento difícil, será lida apenas pelo remetente.
O destinatário é a incerteza, por isso não pretendo enviá-la, para poupar tempo e evitar ser julgada pela pretensão.
Mais linhas em branco maculadas por um sentimento torto e covarde, disforme e maltrapilho.
Visto a carapuça da "não reciprocidade", não é tão difícil assim conviver com a franqueza do marasmo. Não vou morrer, afinal, não permiti ser atingida, saí pela tangente como me pediu o meu manual de instruções, nem tão instruído assim, nem tão sensato.
Escrever do final é um desafio burlesco, cômico. Não acredito em finais sem começos, e nem em finais que começaram, porque tudo é contínuo.
Sentimentos não possuem parâmetros, lógica ou bom-senso para chegarem com a sua bagagem, e nem batem na porta perguntando se são bem-vindos, e eles não morrem no tempo, apenas partem quando terminam a sua balbúrdia, eis a sua missão: bagunçar tudo e dizer "bye".
Eu não sou corajosa, se fosse transformaria o absurdo do que eu sinto em uma surpresa pra você, uma surpresa descabida.
Se eu fosse louca por fora o quanto sou por dentro, arrancaria a sua pele sem hesitar, e não ia pensar na sua reação.
Se eu fosse o que o meu medo me obriga a não ser, eu entregaria os meus versos, sem pensar nos desafetos ou nos muros de concreto que poderiam vir adiante.
Às vezes vejo o amor como um criminoso que encurrala-nos em becos-sem-saída, tira-nos da órbita, e faz das nossas mãos culpadas por se isentarem do que pulsa no peito.
Às vezes eu durmo sem dormir, acordo sem acordar, e vivo sem viver.
Porque às vezes eu olho para o espelho e vejo o que você me tornou, mesmo sem saber, mesmo sem querer.
Escrever é uma benção que alivia, em contrapartida é uma droga que vicia, que esvazia.
Estou cheia de vazio, farta de mim, aterrorizada por você.
E você está aí, com a sua vida perfeita, com a sua sensatez, seu terno, sua gravata e sua vida agitada, suas responsabilidades, e eu ainda nem aprendi a ser eu. Eu sem você.
Minha imaturidade em sentir é o meu pior inferno.
O que me cabe é a invisibilidade, a pachorra com os solilóquios, e a aceitação estúpida de que não é assim que se vive, não é assim que se é, mas pouco importa mesmo assim, ninguém pode me ler.
(Naná)
28/07/2013
Não és a única. E as vezes, alguém lê.
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