SEGUE-ME?

2 de dezembro de 2013

"Acaso"


E assim como o vento veio em forma de acaso, ele se foi. 
À princípio, miscelânea de intempérie e euforia, um caos almejado com mãos dadas à uma doçura perturbadora, surge de um mundo impensado, mas conforme o relógio ajusta os ponteiros da realidade as coisas se tornam brisas, e então não raramente em não muito tempo elas partem para outros destinos, como quando as mãos se desligam, afigurando-se em imagens contorcidas e quebradiças no cerne, deslocadas pela escassez do prazo de reconhecimento. 
O que fica, é a sensação de ser tocado por esse vento, num tempo que, outrora era dócil, mas que no presente toma a forma de uma ave de rapina, que também paira nos ares como brisa, mas abocanha ao invés de tocar mansamente. 
É no meu silêncio inaudito, diminuto, que as palavras me rasgam o peito, feito corvos, com bicadas de angústia e desalento, quando penso num tempo que nunca existiu... porque o vento passou muito rápido, a efemeridade bateu mais uma vez o seu recorde... só a minha "ficha" da razão que demora sempre à cair. Se o meu silêncio olha para você e paralisa, é porque o "nó" já se habituou à minha garganta, e a voz parece sempre um som estúpido e relutante quando sai vagarosamente, à procura de um resquício, de uma chance esperançosa de reciprocidade. Mas não há. 
Os espelhos me olham com recriminação, rejeitando e tomando como nulidade essa minha profundidade descabida, que me faz escavar poços dentro de mim pra me esconder. E eu confesso, já estou cansada de escavar poços, e de subir à tona na superfície só pra ver se algo muda. E nada muda. 
Recuso-me a abrir novamente os olhos... receio deixar entrar imagens deste mundo baço e distorcido. Talvez, quem sabe, um dia, alguém repare que dentro desse meu casulo desgracioso haja ainda um pouco de vida esperando para existir. Tenho penas debaixo da língua.

(Naná)
14/09/13



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