SEGUE-ME?

2 de maio de 2011

Memória...


E quando somos crianças queremos logo ser adultos,
E quando somos adultos, queremos voltar a ser criança.
Por isso a criança é inocente, ingênua!

Perdi a conta de quantas vezes quis levar broncas novamente,
Ter um ombro e um colo pra chorar,
Conversar sobre como foi o meu dia,
Contar segredos,
Dar risada à toa,
Me lambuzar de brigadeiro,
Sinto falta até das discussões...

O que mais me dói
É que o tempo passa,
A vida segue, sem graça,
Sem sentido,
Sem ânimo...
Sinto-me deslocada no tempo que se foi,
Na vida que se perdeu,
Na dor que brotou...
E na certeza de que nada mais disso volta...
E eu já não sou mais a mesma...
O tempo me amargou por dentro,
E a saudade nunca vai embora...


[Naná]




2 comentários:

  1. Uma critica a palavra, ao olhar, ao outro e as nossas esperanças.

    Quando olhamos alguma coisa pela primeira vez, registramos instantaneamente algo de novo, mas num segundo seguinte, enquadramos esse algo em um esquema conhecido, quer dizer tudo o que vemos sofre rapidamente o processo de rotulagem, precisamos freqüentemente reduzir aquilo que vemos ao que já conhecemos para nos tranqüilizarmos e sentir-nos seguros, fazemos essa redução do mundo que nos torna cegos para que a coisa tenha em si mesma, nós não a vemos, vemos nela "aquilo que queremos ver" não o que de fato ela é; o oposto é a percepção que é continua recriação e reconstituição do mundo, veja essa passagem:

    "O meu olhar é nítido como um girassol.
    Tenho o costume de andar pelas estradas
    Olhando para a direita e para a esquerda,
    E de vez em quando olhando para trás...
    E o que vejo a cada momento
    É aquilo que nunca antes eu tinha visto,
    E eu sei dar por isso muito bem...
    Sei ter o pasmo essencial
    Que tem uma criança se, ao nascer,
    Reparasse que nascera deveras...
    Sinto-me nascido a cada momento
    Para a eterna novidade do Mundo...

    Creio no mundo como num malmequer,
    Porque o vejo. Mas não penso nele
    Porque pensar é não compreender...

    O Mundo não se fez para pensarmos nele
    (Pensar é estar doente dos olhos)
    Mas para olharmos para ele e estarmos de acordo...

    Eu não tenho filosofia; tenho sentidos...
    Se falo na Natureza não é porque saiba o que ela é,
    Mas porque a amo, e amo-a por isso
    Porque quem ama nunca sabe o que ama
    Nem sabe por que ama, nem o que é amar...

    Amar é a eterna inocência,
    E a única inocência não pensar...

    (Alberto Caeiro, em "O Guardador de Rebanhos")

    Aqui Fernando Pessoa parece ter sido sábio, ela percebe a armadilha do olhar viciado e se desvencilha dela, o olhar do poeta olha tudo como se fosse à primeira vez, ele se nega a rotular o que se vê, a remeter o visto a algo conhecido, ele se nega a pensar, por que quando se pensa já deixa de sentir a coisa. O mundo não se fez para pensarmos nele, diz Pessoa, é preciso senti-lo, em vez de querê-lo interpretá-lo, de enquadrá-lo em nossas visões de mundo, é o que ele fala: quem ama nunca sabe o que ama, nem sabe por que ama, nem o que é amar (uma posição meio radical essa, se praticada literalmente).

    Um dos problemas talvez seja que; o olhar na vida moderna esteja saturado, desde que nos levantamos olhamos o dia, saímos às ruas, atravessamos a cidade e instalamo-nos em nossos ambientes de trabalho ou estudo, em que as imagens que vemos se repetem, e por isso nós não as registramos mais, simplesmente elas passam batidas, nada atrai o nosso olhar, vivemos como se fossemos "cegos"... Estranha ironia!!!, Pois são justamente os cegos que melhor vêem. O documentário "Janela da Alma" lançado em 2002, de João Jardim e Walter Carvalho, é um longa que fala exatamente disso, ele traz o depoimento de Eugen Bavcar, FOTOGRAFO E FILOSOFO CEGO que questiona a perda da capacidade de saber olhar nas atuais gerações; os cegos podem não ter o domínio da visão, do enquadramento, para o ajuste de foco, ou para medir a intensidade da luz gráfica, em compensação, diante de nós eles sentem pela nossa presença, voz, respiração todo o nosso humor, nosso estado de espírito, nosso interior.

    (Poderia lembrar nessa temática também dos estereótipos e Preconceito irracionais. Em geral, o ponto de partida do preconceito é uma generalização superficial, um olhar cego, um estereótipo, do tipo "todos os alemães são prepotentes", "todos os americanos são arrogantes", "todos os ingleses são frios", "todos os baianos são preguiçosos", "todos os paulistas são metidos", etc. Fica assim evidente que, pela superficialidade ou pela estereotipia, o preconceito é um erro...

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  2. ...Entretanto, trata-se de um erro que faz parte do domínio da crença, não do conhecimento, ou seja, ele tem uma base irracional e por isso escapa a qualquer questionamento fundamentado num argumento ou raciocínio. Daí a dificuldade de combatê-lo. Ou, nas palavras do filósofo italiano Norberto Bobbio: "precisamente por não ser corrigível pelo raciocínio ou por ser menos facilmente corrigível, o preconceito é um erro mais tenaz e socialmente perigoso".

    Ao apresentar a base irracional do preconceito, Bobbio levanta a hipótese de que a crença na veracidade de uma opinião falsa só se torna possível por que essa opinião tem uma razão prática: ela corresponde aos desejos, às paixões, ela serve aos interesses de quem a expressa. E por que também não se lembrar da "A ignorância do 'outro' e de si próprio", que diz respeito a estar cego ao outro. Lembra daquele argumento cristão que fala mais ou menos assim "ame ao próximo como ama a si mesmo”, ora, se não conseguimos amar nem amar nós mesmos como poderia ambicionar amar aos demais (?), e os demais aqui no sentido amplo da palavra, não é apenas o parente, amigo, vizinho, mas qualquer outro [até mesmo inimigos] [será que estamos por demais preso ao narcisismo?]... Todavia, voltando a tema principal)

    Assim sendo, se o problema é o "olhar" ou melhor dizendo as "mascaras culturais", o que aconteceria se arrancássemos ela?, será que ainda poderíamos “sonhar” afim de minimizar o repetitivo?...
    Tomar consciência da vida, as vezes e para algumas nos tornaria infelizes, mas é difícil chegar um momento da vida e perceber que tudo aquilo que tínhamos sonhado, afinal, não tem graça nenhuma, não tem nada a haver com nossas expectativas e ficarmos indiferentes, algo não deu certo na vida seja por que não vivemos e permanecemos o tempo todo nos sonhos ou porque a forma de que vivemos nossa vida não era de vivencia real:

    "Se a vida não corresponde as nossas esperanças, não é forçosamente a Vida que está errada: pode ser que sejam as nossas esperanças que nos enganam, desde o início [desde a nostalgia primeira que as alimenta], e que a Vida só possa desde então nos desenganar. Toda a esperança é desenganada, só existe felicidade inesperado" (André Comte-Sponville)

    Nesse caso, a chave escondida desse beco sem saída ou esta na morte ou na vida.

    Por Thiago L.

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