SEGUE-ME?

9 de maio de 2011

Ser inteira...


O seu amor é diferente..
Nunca ninguém antes, me olhou nos olhos como você me olha.
Já me olharam dentro sim, mas olhar dentro dos olhos não significa ter toda a reciprocidade que se espera
E nem significa trazer alguma luz.
E você tem toda a reciprocidade que quiser...
Acho que é por isso que às vezes tenho medo de me envolver demais.
Geralmente tememos a intensidade.
É como se uma torrente de águas quisesse me puxar...
E eu estivesse com medo de me afogar, mesmo a água sendo tão pura e tão cristalina.
Mas você insiste em me levar contigo,
E eu perco o medo de singrar nos teus olhos,
De navegar pelo teu corpo,
Eu esqueço de ter medo, quando você segura nas minhas mãos.
E a paz de ouvir a tua voz aquece o meu coração.
Eu não acho que você é Especial.
Especial é muito comum...
Você é a metade que eu não tinha antes, para poder ser inteira.
E por você eu enfrento os meus medos.
Por você eu aprendo a nadar, a remar,
E se for preciso eu me afogo em você.
Eu me afogo de amor.
E o seu amor extasia minha alma.
Eu desaprendi a ser eu,
Sem que você seja comigo!


[Naná]



6 comentários:

  1. Ora, enquanto uns falam de amor eu falo de paixão.

    A paixão talvez seja o sentimento mais avassalador que acomete os seres humanos, um golpe de raio como dizem os franceses, fonte de obras extraordinárias e também causa de falência e perdição da razão.

    A paixão apresentou múltiplas faces desse sentimento ao longo da historia.

    Paixão, dizem alguns, esta associada ao sofrimento, em alemão a palavra paixão: “Leidenschaft“, cuja raiz “Leidens“ (sofrer) da sentido a enunciado. Paixão, portanto, é igual a sofrimento, pra eles trata-se de um impulso de sentimento que não pode ser dominado pela razão. Ela é sofrimento, mas também emoção, sentimento, um amor que pode degenerar, podendo chegar até a obsessão, um afeto dominador e cego.

    Irei apresentar um esboço geral desse sentimento, falando primeiro da fenomenologia do amor. Vamos tomar como base, a descrição que empreende o escritor Marcel Proust na sua obra “Em busca do tempo perdido”. Para ele, a paixão surge incialmente do sentimento de falta, de quando percebemos a ausência repentina da outra pessoa, donde vem o desespero de não mais vê-la, com isso, tem-se a necessidade de possuí-la além desse mundo.

    “No instante em que ela nos faltou, sentimos em nós, não o desejo de buscar prazeres que seu convívio proporcionava, mas uma necessidade angustiosa que, tem por objeto essa mesma criatura, uma necessidade absurda, a necessidade insensata e dolorosa de possui-la”

    A partir disso, diz o escritor, cria-se em torno do outro uma mística poética. A outra pessoa deve manter algo de misterioso (para o apaixonado), ela assume e corporifica os ideais de beleza, desejo, de felicidade que se tinha em mente. Em verdade, cria-se além dela uma segunda entidade sobreposta à pessoa real. Em geral, a figura presente em carne e osso, não corresponde aquela idealizada pela qual se apaixona; é que a memória havia transformado os detalhes da pessoa quando esta não estava presente.

    “Swann (Personagem:) bem, considerando as coisas, eu ontem não sentia quase nenhum prazer em estar em seu leito, é curioso até como eu a achava feia. (narrador) e sem duvida era sincero, mas seu amor estendia-se muito além das regiões do desejo físico. A própria pessoa, Odette (enamorada) não ocupava nele um lugar considerável. Quando dava com os olhos no retrato de Odette sobre a mesa, ou quando ia vê-la, tinha dificuldades de identificar a figura de carne ou de cartão com uma dolorosa em constante perturbação que o habitava.”

    (Citação de Proust do livro “No caminho de Swann”)

    “Amo-te tanto, meu amor...não cante
    O humano coração com mais verdade...
    Amo-te como amigo e como amante
    Nunca, sempre diversa realidade.

    Amo-te afim, de um calmo amor prestante,
    E te amo além, presente na saudade.
    Amo-te, enfim, com grande liberdade
    Dentro da eternidade e a cada instante.

    Amo-te como um bicho, simplesmente
    De um amor sem mistério e sem virtude
    Com um desejo maciço e permanente.

    E de amar assim muito amiúde
    É que um dia em teu corpo de repente
    Hei de morrer de amar mais do que pude. “

    (Vinicius de Moraes “Soneto do amor total “)

    Proust diz que o individuo suplementar assume proporções enormes, diferentes do ser real: A paixão chega a tornar-se imensa e, ocorre nos reconhecer que lugar de minuto ocupa dentro dela a mulher real (Citação de Proust)

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  2. Além desse aspecto da mistificação da pessoa amada, da criação de uma outra que ocupa o lugar da verdadeira, o apaixonado perde a paz e, o sossego é algo que não existe no amor, pois a presença de algo instável, é que da energia a paixão. O mistério funciona como combustível do sentimento. A ausência do outro se torna insuportável, o amante inventa todos os subterfúgios para estar no local da amada, fabricasse quaisquer pretexto para se cruzar com ela e, quando isso é impossível, onde alguém que tenha cruzado ocasionalmente com ela, essa ser (que cruzou) adquire de repente um ”caráter de divindade” especial.

    “Não foi possível ir hoje a casa de Carlota; uma companhia que não pude dispensar me impediu. Que havia de fazer? mandei lá o meu criado, somente para ter comigo alguém que tivesse estado hoje ao pé dela.Com que impaciência esperei a volta dele (o criado)!, com que alegria olhei para ele quando voltou!, só não beijei por falta de coragem. (...) assim aconteceu com o rapaz; a ideia que os olhos de Carlota lhe avia fitado o rosto, as faces, os botões de sua roupa, a argola do sobretudo tornava tudo nele precioso e sagrado. Nesse momento eu não cederia meu criado por mil escudos.”

    (Citação de Goethe do livro: os sofrimentos do jovem Werther)

    (MUSICA: Billie Holiday – Night and day
    http://www.vagalume.com.br/billie-holiday/night-and-day.html#traducao
    http://www.youtube.com/watch?v=Huejqu5qgE0)

    Mas, Marcel Proust não é muito confiante na paixão:

    “Quando eu pensava naquelas jovens, embora sem o saber, sucedia que mais inconscientemente, dava-se que elas eram para mim, aquelas ondulações monstruosas e azuis do mar, o perfil de um desfiladeiro diante do mar; era o mar que eu esperava encontrar. (...) O amor mais exclusivo para uma pessoa é sempre o amor por outra coisa.”

    Inauguramos numa mulher, projetamos simplesmente nela um estado de nossa alma, por conseguinte, o importante não é o valor de uma mulher, mas a profundeza do estado. A paixão joga como misterioso, com o inatingível, com a necessidade de posse definitiva, mas quando de fato ocorre (a posse), apagasse o fogo. Vivendo junto, diz Proust, tudo desaparece.

    Na antiguidade, a paixão era tida como passividade, submissão cega, vista como algo negativo, pela tradição cristã, ela equivalia à submissão do homem a entidades perversas.

    “A paixão representa à submissão as forças do mal, sem jamais conceber de responsabilidade aquele que dela é vitima, o apaixonado é um homem dividido, inimigo de si mesmo e, desse fato não tem liberdade de ação para lutar contra essa necessidade interna que pesa sobre ele”

    (Citação desconhecida)

    Para outras a paixão é uma espécie de loucura.

    "O granadeiro Gobain suicidou-se por amor: era aliás um excelente sujeito. É o segundo acontecimento dessa natureza que acontece à companhia desde um mês. (...) Esses granadeiros apaixonados, melancólicos, de que linguagem tiravam eles sua paixão ? (...), Perspicácia de Bonaparte, assimilando o amor a uma batalha, não – trivialmente – porque dois parceiros aí se enfrentam, mas porque, cortante como uma metralha, a rajada amorosa provoca ensurdecimento e medo: crise, revulsão do corpo, loucura."

    (Citação de Roland Barthes do livro Roland Barthes por Roland Barthes)

    Além de forças do mal ou loucura, a paixão também é vista como doença, doença da alma, como uma anomalia orgânica, ela vai se apossando de nós até dominarmos por completo. Diz Henrri Bérgson, que uma alegria, uma tristeza profunda, uma paixão, uma emoção estética, se manifestam-se por “intensidades”. Iniciasse por uma intensidade fraca, geralmente isolada, que se expande ao poucos até atingir com sua cor os elementos psíquicos. Esses fatos psicológicos, não são coisas que se justapõem, quando o sentimento passa ocupar um grande espaço na alma, sua imagem modifica as percepções isoladas, penetra nelas.

    (MUSICA: Caetano Veloso – Sonhos
    http://www.vagalume.com.br/caetano-veloso/sonhos.html)

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  3. Esse sentimento humano é um fenômeno tão intraduzível como os sonhos, ela ocorre numa zona psíquica que não temos acesso, mas que surpreendentemente tem um poder excepcional sobre todo nosso sistema mental. Ficamos perplexos com as situações que ela nos coloca ninguém decide se apaixonar. Paixão é algo que vem misteriosamente e, depois que ela se instala, ou a deixamos se expandir, ou a combatemos, tendo nos dois casos, fortes repercussões em nossas vidas. Igualmente intrigante é, o fato de que mesmo tendo terminado uma relação passional, mesmo quando a pessoa retorna a sua vida normal e considera aquilo uma pagina virada, ainda há algo como um germe que, permanece residente por algum tempo no psiquismo, como um sentimento em “standby” que nos deixa frágil diante da pessoa que nos abateu em outros tempos.
    Por vezes, o envolvimento como uma pessoa é inicialmente despretensioso, episódico, apenas um prazer passageiro, de repente nos damos conta que fomos fisgados, que já corremos desesperados atrás dessa pessoa.

    (MUSICA: Claudio Baglioni - Questo Piccolo Grande Amore
    http://www.vagalume.com.br/claudio-baglioni/questo-piccolo-grande-amore-traducao.html)

    Falemos agora da paixão do ponto de vista filosófico e das concepções positivas da paixão.

    Emil Cioran (filosofo), associa a paixão ao vazio existencial (que alias, é concepção mais avassaladora que já vê, uma das minhas favoritas, citei ela em algum lugar):

    “No fundo amamos para nos defender do vazio existência e em reação a ela, a dimensão erótica de nosso ser é, uma plenitude dolorosa, própria para preencher o vazio que esta em nós e fora de nós, sem a invasão do vazio essencial que corróe o núcleo do ser e destrói a ilusão necessária a existência, o amor permaneceria um exercício fácil, um pretexto agradável, e não uma reação misteriosa, ou agitação crepuscular. Sendo o Máximo de vida e de morte, o amor constitui uma intensidade no vazio, e toda intensidade é uma redução do vazio. Será que suportaríamos o sofrimento do amor se ela não fosse uma contra o tédio cósmico, contra a decomposição imanente?”

    (MUSICA: John Lennon – Oh My Love
    http://www.vagalume.com.br/john-lennon/oh-my-love-traducao.html
    http://www.youtube.com/watch?v=p5Kh-IMKDqM)

    Emil Cioran diz também que:

    “Não se adora a mulher, mas aquilo que se é por ela, é um culto necessário para evitar o narcisismo. Corre-se atrás das mulheres por medo de solidão e, se ficamos com elas é em razão de uma sede igual a este medo. Pois mais que em outra parte, no amor a pessoa se decompõem por si mesma, O amor, mostra até onde podemos ser doente nos limite da saúde, o estado passional, não é uma intoxicação orgânica, mas metafísica.”

    “O terno e perigoso
    rosto do amor
    me apareceu numa noite
    depois de um dia muito comprido
    Talvez fosse um arqueiro
    com seu arco
    ou ainda um músico
    com sua harpa
    Não me lembro mais
    Nada mais sei
    Tudo o que sei
    é que ele me feriu
    talvez com uma flecha
    talvez com uma canção
    tudo o que sei
    é que me feriu
    feriu aqui no coração
    e para sempre
    Ardente muito ardente
    ferida do amor.”

    (POEMA: Jack Prevert – O terno e perigoso rosto do amor)

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  4. (obs.: a proposito foi um tanto difícil escrever esse esboço, pois toda a analise que se preze, deve-se manter uma certa distancia da matéria analisada. ocorreu que, não raro, houve algumas "perturbações" durante a escrita, ainda mais quando se mostrar isso a publico - dependendo da pessoa.)

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  5. (ATENÇÃO: Não acredite em nada do que esta sendo escrito aqui, se por ventura encontrar algo que lhe convenha, lembre-se que isso é apenas mera coincidência)

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  6. Uma critica ao privatizo

    As melhores coisas da TRADIÇÃO CULTURAL OCIDENTAL, segundo o ponto de vista de Sennett (psicanalista), derivam das convenções que havia regulado as relações impessoais em publico. Estas convenções hoje, condenadas como sendo restritivas artificiais e mortais para a espontaneidade emocional, estabeleciam primitivamente os limites civilizados entre as pessoas, limitavam demonstrações publicas de sentimentos e promoviam o cosmopolitismo e a civilidade. Na Londres ou Paris do século 18, por exemplo, a sociabilidade independia da intimidade.
    "Estranhos que se encontravam em parques ou ruas, sem qualquer embaraço podiam falar uns com os outros.", eles compartilhavam um fundo comum de signos públicos, que possibilitava as pessoas de níveis de desiguais conduzirem uma conversação civilizada e cooperar em projetos comuns, sem ter a sensação de estar expondo seus segredos mais íntimos.

    No século 19, porem, irrompeu a reticencia e as pessoas passaram a acreditar que as ações publicas revelavam a sua personalidade intima do agente. O romântico culto da sinceridade e autencidade rasgou as mascaras que as pessoas haviam usado em publico e, destruiu os limites entre a vida publica e privada. À medida que o mundo publico passou a ser visto como um espelho do eu, a pessoas perderam a capacidade de distanciamento e, consequentemente, do encontro lúdico, que pressupõem um certo distanciamento do eu.

    Em nossos dias, de acordo com Sennett, as relações publicas concebidas como uma forma de auto-revelação, tornaram-se profundamente serias. As pessoas percebem sua posição social como um reflexo de suas próprias capacidades e culpam-se pelas injustiças cometidas contra outras. Quando os limites entre o eu e o resto do mundo entram em colapso, tornasse impossível buscar o auto-interesse esclarecido que antes informara a cada individuo - na politica principalmente. O narcisista (quem conhece o termo na psicanálise, sabe do que estou falando) sustem os interesses do ego, em um delírio de desejo, isto é, ele vê o mundo afora como um reflexo de si mesmo e quer ter a posse de tudo aquilo que pode "elevar" sua pessoa.

    O fato é que os homens jamais perceberam seus interesses com perfeita clareza e, portanto, inclinam-se, através da historia a projetar aspectos irracionais no campo publico - e politico. Nossa sociedade, longe de favorecer a vida privada a custo da vida publica, tornou cada vez mais difíceis de serem conquistadas amizades profundas e duradouras, elas são vistas como casos de amor e casamento. À medida que a vida social se torna mais "hostil" e "Barbara", as relações pessoais que outrora proporcionavam alivio para estas condições, assumem o caráter de combate atualmente, ora, isso é uma pena, por quem perde são os próprios sujeitos que cada vez mais se isolam e tornam suas relações fragmentarias...

    Por Thiago L.

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