SEGUE-ME?

2 de dezembro de 2013

"A Ponte"


Eu, sendo "tagarela com as mãos" gosto de escrever sobre diversas coisas... sendo sensatas, coerentes, lógicas.... ou não. E embora haja ou não aceitação dos meus "excertos", acho que a expressão é uma forma de permissão, de dignidade própria. Acho digno permitir-se ser. 
Alguém me disse sem saber ou desejar, que eu deveria escrever algo essa noite. E dizeres nem sempre são explícitos, às vezes você percebe as entrelinhas do que os gestos te incitam... E eu decidi escrever, portando a maior dignidade que já pude sentir. 

"Era uma noite qualquer, onde eu tentava me avistar em um espelho qualquer. Caminhava com passos trôpegos, portava uma verdade ilícita no sentir. As mãos sempre inquietas, o semblante sempre tenso, e as pernas desorientadas pelo caos da introspecção, que não trespassava uma fuga irrefletida do "eu". A introspecção era também um guia que ainda tentava desvencilhar-se do horizonte vendado, que continham os paradigmas. Mas ao longo do caminho, acabei descobrindo uma ponte, e na ponte, eu parei... lá embaixo tinha um rio no qual eu pude ver refletida a minha nudez. 
Talvez os novos ares me remetessem à outros sentidos, mais eloquentes, pensei... ou talvez eu tivesse naufragado novamente na ilusão de poder me alcançar. Na verdade só queria sair para caminhar e esquecer um pouco da minha notável confusão. 
Foi então que duas mãos, revestidas de mistério, dirigiram-se à mim, despropositadamente... acho que elas notaram a desorientação dos meus olhos, mesmo com a minha cabeça prostrada, numa tentativa de refletir sobre o tempo. Essas mãos, tão cálidas, trouxeram-me da superfície, revelando algo o qual eu desconhecia... essas mãos, tão leves, me devolveram a sensação do meu pertencimento, da minha capacidade de seguir. Essas mãos tinham também olhos. Olhos mudos, da cor verde que contém seiva, da cor das coisas que surpreendem. Olhos que eu não sei explicar. Olhos que roubam para devolver. Por um momento, eu parei no tempo e me vi sorrir pelo desconhecido. Surpreendi-me pela ausência do medo da entrega. Não era cegueira, não era prenúncia, era o inegável me dando asas. Era um sintoma doce de quem consegue a percepção de um encaixe fora de órbita... um alento para o cerne. 
Eu tropecei quando olhei para aqueles olhos, o meu corpo trepidou inteiro, mas a pulsação estrangulante, de repente cessou. Aquelas mãos, aqueles olhos, mal sabiam sobre tudo o que poderiam fazer. 
Quando cheguei em casa, naquela noite, eu compus uns versos para o desconhecido. Não sabia nada sobre ele, mas agora, eu sabia muito mais sobre mim... 
Existem pessoas que nos devolvem. Pessoas que brotam sorrisos em nosso semblante sem sequer cogitar. Pessoas, que na sua ausência, deixam o perfume estampado no nosso cerne... 

Depois daquela noite, o estranho me pertenceu, de algum modo. Sei que ele pode sentir a permissão da minha reciprocidade, sei que ele dorme agora, enquanto eu escrevo esses linhas tortas, mas com o coração "aprumado". 
Que em noites como essa, quentes e tão harmônicas, eu permita-me bailar de mãos dadas ao contentamento, pois a razão tem os olhos mais belos que eu já pude enxergar, e as mãos mais suaves, que me acompanham o ritmo da dança." 


(Naná) 
14/10/13




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