SEGUE-ME?

2 de dezembro de 2013

III


- Acha mesmo que sou alguém confiável? 
- Sim, claro. Mas porquê a pergunta? 
- Porque dizem que meu mistério é um tipo de mistério confuso e esquisito. 
- Mas todos os mistérios são assim. 
- Claro, mas alguns mistérios as pessoas tentam desvendar, o que não é o meu caso. 
- Ahn... mas você gostaria que isso acontecesse? 
- Na realidade não sei. É bom ser "alvo" de uma "resposta", ou de uma "procura", mas não sei lidar muito bem com isso, nunca sei. 
- Talvez porquê tenha medo. 
- Mas na prática, medo apenas incita mistérios. 
- Bom, não sei. 
- Eu sou um caso complicado, "sem-pé-nem-cabeça". Mas sou boa com lacunas. 
- Lacunas? 
- Sim, acho que todo mundo tem, sendo consciente ou inconsciente disso. 
- Me explique. 
- Bem, todos nós temos anseios particulares, sempre buscamos coisas, aspiramos ser preenchidos, mas a plenitude não existe. Possuímos espaços sagrados. 
- Espaços sagrados? Que maluquice é essa agora? 
- Oras, é uma maluquice sensata. Pare e pense: você com certeza tem algo em si que ninguém sabe, é óbvio. E tudo o que portamos em nós, habita em espaços... sim, como os espaços físicos.... Logo, esses espaços, são de certo modo, intocáveis. Seria hipocrisia dizer que a nossa vida é um "livro aberto". Por mais "exibicionismo" que haja, muitas singularidades são imperceptíveis. 
- Aiaiai! O que dizer sobre as suas filosofias? 
 - Bom, nunca espero que digam nada, tampouco concordem. Só quero o meu espaço, mesmo invisível. Todo mundo têm direito à censura, mas também tem direito de "aturar" a desimportância desta. 
- Acho que matei a sua "charada"! Ou, pelo menos, parte dela... 
- À que se refere? 
- Bom, você é um tipo complexo de gente. E as pessoas têm medo de se aproximar de pessoas complexas. - Isso faz de mim, uma complexidade vã? 
- Não, necessariamente. Acho que não devo generalizar o contexto. 
- Tem louco pra tudo não é? 
- Haha! Mas existem loucuras e loucuras. Loucuras que valem a pena, loucuras inviáveis. 
- E qual o meu tipo de loucura? 
- O que raros vêem. 
- Então a maioria é cega? Hahah! (brincadeira!) 
- Talvez. 
- Mas e você, me vê? 
- Acho que sim. O que você acha? 
- Não acho, achismo não é o meu forte. Apenas vejo o que vejo. 
- E o que você vê? 
- Vejo que você não é superficial. 
- E isso é bom? 
- Claro, sempre é. 
- Mas e você, me vê? 
- Claro, na verdade se não fosse possível nos enxergar, esse "diálogo" não seria possível, aliás, sempre é difícil dialogar comigo... sou um tipo meio "intragável", gosto de detalhar os pormenores. 
- É verdade. Você ainda continua sendo um mistério. Nunca sei sobre o que você vai dizer, apenas espero você "divagar"... 
- Bom, pelo menos você "espera". Mas eu, eu não cultivo o verbo esperar, prefiro o verbo "esperançar". 
- Hum, está certo. Você sempre tem cartas na manga. 
- Não, vêem minha sinceridade exacerbada como um truque errôneo, mas não sou composta de truques! Não confunda lacunas com truques, haha! 
- Não estou confundindo isso, você me confunde em tudo na verdade! 
- (Risos!) 
- Você é uma maluca que eu gosto! 
- Obrigada! 
- Bom, preciso ir, assim como eu vim. 
- Não vai conseguir. 
- Por quê? 
- Você será outro quando for. 
- Ãhn? Lá vem... 
- Sempre deixamos um pouco de nós, e levamos um pouco do outro conosco, é inegável. De qualquer modo, obrigada pela sua companhia, acho que ela vai permanecer aqui comigo, afinal sua companhia me enxergou. 
- Não sou como os outros. 
- Sei que não. Por isso você me enxergou! Beijos, boa noite!


(Naná)
13/10/13




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