SEGUE-ME?

2 de dezembro de 2013

"Lacunas"


As "brechas" sempre me importunaram enquanto, outrora andava ocupada com os sentimentos limitados à outra direção, feito linhas incômodas tecidas só para compensar a inverídica reciprocidade, a intervenção alheia. 
Mas com o passar o tempo descobri que esses espaços não pertencem à ninguém, a não ser à minha própria junção de acepções, manias, conceitos, acertos, erros e (descom)passos. 
Em certo ponto do caminho aprendemos com as lacunas existentes, uma lição que ninguém jamais poderá nos ensinar. 
Às vezes empilhamos sentimentos que sufocam. Em outros estágios, a introspecção parece voar livre nos lugares ermos do cerne. Mas os nossos espaços, as nossas "lacunas" não são castigos; podem ser culpas induzidas consciente ou inconscientemente, pelo nosso descontrole nostálgico da dependência de outras pessoas ou até mesmo um passo à frente para a evolução de querer coisas novas, e não se contentar com o que aparentamos ser, sim, porque saber o que somos é demagogia. Sabemos o que queremos, mas não quem somos, na literalidade da compreensão. 
Os espaços, as brechas, as lacunas, são "nada mais nada menos" do que o caminho para encaixar o ajuste dos pensamentos e dos passos. Não dá pra se movimentar muito bem em lugares apertados, além da pouquidade da dimensão, há o comprometimento da concentração e uma coleção de insentidos, desproporcionais à meta que traçamos. Os espaços nos mostram as direções, e não significa que seja um sentimento escavado e propenso à incompletude. 
Hoje eu estava caminhando pela rua, pensando sobre o vazio que às vezes vem me visitar, e tentei observar os meus passos por um outro ângulo, e ensaiei (ao menos), compreender sobre o que me faz caminhar, além da rotina, inevitável. Meus passos pareceram ínfimos, e essa tentativa parecia mais uma ideia boçal de uma filosofia desconexa, mas tentei me adaptar ao silêncio, que na verdade mais parecia um alarde interior, afinal nossos horizontes não são só compostos de retas, mas também de curvas sinuosas fomentadas por decisões, escolhas, consequências (e paranoias). Pensei eu, que a vida parece mais um retrato de uma eletroencefalografia filosofal, com os esboços pendurados no mural da auto-crítica, sempre à vista. Percebi, caminhando e observando, no silêncio da introspecção, que o que me move é o meu "nada", e não a tão almejada completude, a suposta plenitude. A plenitude é uma máscara, uma menção hermética e dispensável quando se deseja seguir em frente, e não parar pelo caminho com a falsa ilusão de que já estamos no "topo" e somos invioláveis, inatingíveis por contextos, pretextos e textos chegados em forma de conselhos, julgamentos, pré-conceitos, pontos de vista, moralidade, e afins. Descobri, nessa brecha do meu espírito obtuso, que a minha pequenez é o segredo do caminho, e a efemeridade das coisas nos torna mais fortes, sempre. 
Depois que decidi tentar compreender as minhas próprias entrelinhas, aprendi que as curvas sinuosas da vida são as mais importantes, porque além na necessidade da prudência, há também a necessidade da nudez. Ninguém realmente ultrapassa um estágio se não estiver nu, e a nudez pode significar a dor, a quebra de paradigmas, o perdão seja ele alheio ou próprio, entre outras coisas. Mas principalmente, ninguém pode evoluir se não souber ter e lidar com as lacunas. 
"Lacunas", ou "cavidades intercelulares", ou seja lá qual disposição exista para nomear esses espaços, onde se concentram as nossas experiências e as nossas vivências em forma de um caos silenciado, mas um espaço inadiável e urgente.



 (Naná) 
10/09/2013




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