SEGUE-ME?

2 de dezembro de 2013

"Papel em Branco"


Nunca é fácil calcular o tempo e a medida de reciprocidade. 
Às vezes a dúvida se confunde com insegurança, ou a insegurança se camufla na dúvida, mas os sentimentos nunca se escondem, mesmo que eles sejam descabidos, insensatos e inexequíveis. 
Sentimentos a gente nunca escolhe, nem a reciprocidade ou a ausência desta, tampouco o tempo onde a gente caminha. 
É sempre difícil carregar a insegurança na mala e viajar num tempo deserto, imprevisível e incerto onde os sentidos constroem e destroem muros na alma. 
Minhas palavras são cúmplices do meu silêncio e minha mudez me condena quando a consciência me ridiculariza por sentir o que não me cabe. Não saber o que se deve sentir é saber muito bem o que se sente, mas é ter medo. O medo paralisa, o medo é o fantasma da incapacidade que te assusta quando você se olha no espelho, e você tem medo de quebrar o espelho porque os estilhaços vão fazer doer, porque o espelho mora dentro de você, e o medo é o reflexo de como você se vê. 
Gostar nem sempre é uma virtude, às vezes é confusão mental, e escorre pelas mãos a certeza, o controle, quando a gente gosta. Gostar é uma faca de dois-gumes. Gostar é ser inseguro, sair da órbita do tempo e do espaço, é pular o muro, se esfolar e cair nos espinhos, gostar é lembrar de sóis, da lua, da chuva, ver estrelas por lembrar de alguém. Gostar é normal, é comum, o problema reside em "ser gostado". 
Devo ter nascido para a função de ser esquisita, e aprender apenas a gostar. Devo ter nascido para namorar e ser gostada apenas pelas palavras, um dia ainda me caso com elas. Acho que o vazio do papel em branco gosta de mim, é com ele que compartilho os meus sentidos ou a falta deles quando a caneta toca a sua superfície, como se eu tocasse um rosto, e como se esse rosto me olhasse. É ele que faz esvoaçar esse meu medo do fantasma, do espelho e das incertezas. O silêncio em branco do papel me gosta sem pensar no tempo ou em reciprocidade, ele apenas me olha e eu retribuo com a estranheza do meu tato, quando deságuo em palavras ou em versos. E é assim que sou gostada. 
Como diz Caetano Veloso em sua música: "Cada um sabe a dor e a delícia de ser o que é..."


(Naná)
08/09/13



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