SEGUE-ME?

3 de dezembro de 2013

"Ruas do Pensamento"


Hoje enquanto passeava pelas ruas do pensamento, procurando algo que já temia encontrar, tropecei na vontade de voar, em sonhar acordada. 
Tropecei na vontade de sentir-me amada, de sentir-me alguém, simplesmente... mas pensei que tudo não passava de um tropeção que afetou a dor que perambula cá comigo, e voltei a caminhar, segurando a indiferença nas mãos, e o peso dos olhos querendo desaguar. 
Segui forte, olhando para o alto, onde facas caíam sobre o meu corpo exausto de tanto tropeçar e voltar à realidade. Recompus-me nessa viagem onde os braços são ímpares na vontade de abraço, onde os ombros são estátuas que apenas observam o caos empurrando a alma com a barriga. 
Hoje enquanto eu perambulava nas ruas, tropecei várias vezes, em momentos que nunca existiram, em capítulos que nunca saíram da mente para a página vivida, onde os lábios morrem secos à beira de um oásis não visto. 
Os meus tropeços talvez sejam um defeito, algum resquício oculto da contrariedade da descrença. Hoje eu debrucei na janela, contei estrelas no céu pra disfarçar o torpor. Tentei olhar para fora com medo de me olhar no espelho. 
Hoje choveu dentro de mim... Choveu rosas despetaladas, cartas rasgadas, sentimentos me acenaram com a bagagem dos sorrisos, indo embora. 
A noite mais escura é também a mais gélida, quando te vais e me deixas aqui, com a dor a me embalar o riso desditoso. E me diz assim, que sou fria na minha melancolia, e que a minha expectativa se finda debruçada sobre o que não sei. 
E os meus tropeços, taciturnos, me recobrem o detrito emotivo, mas desmentem a minha inercia. 
O pássaro púrpura que habitava no meu quarto desde quando nos conhecemos insistiu em sair voando sem qualquer sinal de que retornaria. Saiu ligeiro da cartola de fantasias que eu me afigurava. 
Hoje quando deitei na cama tive a sensação de que o coração parou por alguns segundos, quando a ficha caiu nos meus lençóis e o manchou com a nódoa da tristeza. 
Foi assim que aprendi a tropeçar, sem querer. 
No espelho eu guardo o meu próprio retrato, lenda de alguém que se perdeu no mérito da anodinia quando se coloca os pés no chão. 

(Naná)
25/11/13


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