SEGUE-ME?

23 de abril de 2011

Silêncio...



Estou tentando decifrar o silêncio.
Ele sussurra algo em meus ouvidos,
Mas estou alheia à ele,
Em meio à minha própria introspecção...


[Naná]



4 comentários:

  1. "sensível, entregar-se vivamente a ser sensível, infinitamente sensível, infinitamente receptivo, sempre em estado de osmose, chegar a não ter mais a necessidade de olhar para ver, discernir os murmúrios das memórias, o murmúrio da grama, o murmúrio dos eixos, o murmúrio dos mortos... trata-se de se tornar silencioso para que o silencio entre as suas melodias, dor para que as dores escorram até nós, espera para que a espera possa atuar enfim com suas energias. escrever é saber extrair os segredos que se deve, além disso, saber transformar em diamantes"

    Citação de Léon-Paul Fargue - O pedreste de Paris.

    (parte 2) As diversas faces do silêncio

    Existe um silencio negativo, depressivo, angustiante, o silencio dos que temem, o silencio dos cúmplices, o silencio dos covardes, o silencio dos resignados, a algo de ameaçador num silêncio demasiado grande, dizia Sófocles, dramaturgo grego Antígona em "Antígona”. ou ainda mais fundo,o autor grego moderno Andreas Frangias diz que o silencio é o mais corrosivo de todos os ácidos.

    Poema: Talvez que seja a brisa - Fernando Pessoa

    "Talvez que seja a brisa
    Que ronda o fim da estrada,
    Talvez seja o silêncio,
    Talvez não seja nada…

    Que coisa é que na tarde
    Entristece-me sem ser?
    Sinto como se houve se
    Um mal que acontecer.

    Mas sinto o mal que vem
    Como se já passasse…
    Que coisa é que faz isto
    Sentir-se e recordar-se?"

    Algo na tarde "me entristece, sem ser?", "Talvez seja o silêncio", o mesmo silencio das cidades vazias, que nos mostra mais duramente, mais friamente, mais incosolavelmente que não temos a ninguém a quem comunicar nossa dor.

    Poema: A nostalgia - Ungaretti

    "quando
    À noite esta esfumando
    Pouco antes da primavera
    E raramente
    Alguém passa

    Em Paris adensasse
    Uma cor escura
    De pranto

    Em um canto
    De ponte
    Contemplo
    O ilimitado silêncio
    De uma jovem tênue

    Nossas doenças
    Se fundem

    E como levadas embora
    Se mantém.”

    Paris é uma cidade em que a solidão é particularmente aguda, suas pontes, a majestosidade da metrópole em contraste com a insignificância de seus personagens; uma cidade luz, onde a solidão não tem onde se esconder...

    Não só Paris naturalmente, Nova York, São Paulo transmitem igualmente um silencio assustador no fundo de seus barulhos.

    Mudemos o tom, o silencio também pode ser visto como algo positivo.

    O som do silencio, quem primeiro evocou as beneficias dele foi à filosofia oriental, com Buda, para eles quem sabe não fala, quem fala não sabe isso incomoda muito o pensamento ocidental, por que fomos educados de forma errada, nos ensinaram que a realidade por de ser estruturada numa linguagem, ou que ela é uma linguagem, quer dizer, que a palavra é tudo, seja o "logos" dos gregos, o "Davar" dos judeus, o "verbo" dos cristãos, a razão dos filósofos, de qualquer forma sempre nos foi imposto que, na palavra encontraríamos a verdade, bastava à palavra, a frase, o texto e tudo estaria resolvido, mas já vimos no inicio que as palavras não dizem muito, são limitadas, e o que mais importante esta fora delas, no limiar do silêncio que eu não posso atravessar como expressou George Bataille. Buda é chamado de o "grande silencioso", para os budistas, uma idéia é tanto mais importante quanto menos tentamos traduzi-las em palavras, isso este ligado a certa noção de pureza, de que a pureza pertence ao silencio, ou seja, ausência daquilo que é visível.

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  2. "chegar a nada mais apreciar a não ser o silencio é realizar expressão essencial do fato de viver a margem da vida, em vocês, grandes solitários e nos fundadores de religiões, o elogio do silencio tem raízes bem mais profundas do que se imagina, é preciso para isso, à presença do homem nos tenha exasperado que a complexidade dos problemas os tenha desgostado a ponto de vocês só se interessarem pelo silencio e seus gritos, o cansaço leva a um amor ilimitado ao silencio, pois ele priva as palavras de sua significação para fazer delas sonoridades vazias, os conceitos devolvem, a potencia da expressão atenuasse, qualquer palavra dita ou ouvida desabrocha estéreo, tudo que parte em direção ao exterior permanece um murmúrio monocórdio e longínquo, incapaz de despertar o interesse e a curiosidade, a vocês então parece inútil dar sua opinião, tomar posição ou impressionar quem quer que sejam, os barulhos aos quais vocês renunciaram juntam-se ao tormento de sua alma, no momento da solução suprema depois de ter desenvolvido uma energia louca para resolver todos os problemas e afrontada as vertigens do cume, vocês encontram no silencio a única realidade, a única forma de expressão."

    Esta citação é de Emil Cioran (filosofo).

    O mesmo sentimento em relação ao silencio encontra-se em Goethe para quem: o melhor é o silencio profundo, no qual vivo contra o mundo, e cresço, e ganho, e conquisto o que não me pode ser arrebatado por espada ou pelo fogo.

    (parte 3) Aprender a língua que não se fala

    Falamos até agora que as pessoas procuram normalmente o barulho e a falação; o barulho porque acha que com ele obtém companhia para a sua solidão, a falação por que sentem a sensação de estarem vivas e que no silêncio entram e depressão. Vimos também que apesar de falarem as pessoas percebem que as palavras são insuficientes, não traduz o que sentimos ou que queremos e que de fato para chegar à verdade das coisas precisamos cultivar o silencio, não o silencio incomodante dos indiferentes, dos covardes, dos ausentes, dos conviventes com o arbítrio e o terror, mas o silencio do reencontro e reconhecimento de si mesmo...

    Musica: A Paz - Zizi Possi
    http://www.vagalume.com.br/zizi-possi/a-paz-original.html

    O silencio antes de mais nada deve ser algo desfrutado, falar é muito fácil, na verdade, quando não se tem talento dizia Quintiliano (professor de retórica, filólogo conceituado e advogado) disse tudo, já o homem de talento escolhe e se contem.

    "infelizes daqueles que não conheceram o silencio, o silencio é um pouco do céu que desse ao homem, ele vem de tão longe que não se imagina, ele vem de grandes espaços inter-estrelares, de paragens, sem a contra corrente da lua fria, ele vem de traz dos espaços do além do tempo"

    Esta citação é de Ernest Psichari (filosofo).

    O que se faz de grande se faz no silêncio. Mesmo o Imperador Napoleão Bonaparte reconhecia a qualidade do silencio ao aconselhar as pessoas; saber escutar, pois silencio produz geralmente o efeito da ciência, e assim também pensam outros tantos...

    "Antigamente as pessoas queriam fazer uma reputação, hoje isso já não basta, já que o mercado tornou-se muito grande, agora é preciso uma gritaria, a conseqüência é que mesmo as boas gargantas ultrapassam-se umas e outras, sem gritaria no mercado e sem rouquidão não existe mais nenhum gênio, para os pensadores isso é naturalmente um tempo ruim, ele tem de aprender a encontrar a sua paz entre as barulheiras e se fazer de surdo até que de fato o fique"

    Citação de Nietzsche em A Gaia Ciência

    Musica: Silence - Lara Fabian
    http://www.vagalume.com.br/lara-fabian/silence.html#traducao

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  3. O Filosofo André Comte-Sponville tem muitas reflexões sobre o silêncio, ele diz que o silêncio é tudo o que resta quando nos calamos, não é exatamente a ausência de palavras, mas a presença das coisas. O silencio, portanto outro nome para o real. Que uma palavra é boa quando atravessa um silencio muito espesso, por exemplo, numa confidencia, numa confissão, já numa discussão ela tem um valor intermediário, mas na tagarelice ela já não vale mais nada, ele pensa também que o amor se realiza no grande silencio e que a sedução a contrario é o reino da tagarelice. Um amigo para este filosofo, é aquela pessoa com quem posso sem mal-estar ou vergonha apitar o silencio, isso naturalmente quando a verdade nessa amizade, instando-se uma mentira o silencio fica irrespirável. Pois bem, por fim ela fala que é preciso reencontrar o silencio, que o silencio verdadeiro silencio só é possível para quem não tem nada a ocultar.

    Se o falatório é a marca da sedução, e o silencio a marca do amor, todas as paixões devem se realizar no e pelo silêncio, é fácil compreender o excesso de falas ou mesmo o excesso de imagens que é outra forma de discurso, estraçalham o amor, o reduzem migalhas, mostrarem sexo demais nos meios de comunicação nos cansa, falar demais da intimidade passional vulgariza e esvazia o prazer a dois, a insistência em se mostrar, ilustrar, ensinar a praticar o amor faz desaparecer o amor, é necessário, pois recuperar o silencio primordial.

    "vivemos num mundo onde a palavra é instituída, para todas essas palavras banais, possuímos já em nós mesmos significações já formadas, elas só suscitam em nós pensamentos derivados, estes por sua vez se traduzem em outras palavras que não exige de nós nenhum esforço verdadeiro de expressão e não demandou de nossos ouvintes nenhum esforço de compreensão, mas com isso perdemos a consciência do que há de contingente na expressão e na comunicação, seja na criança que aprende a falar, seja pelo escritor que diz e pensa pela primeira vez alguma coisa. em fim, em todos aqueles que transformam em palavras um seu silencio. nossa visão do homem permanecera superficial enquanto não remontarmos essa origem, enquanto não encontrarmos sobre o som das palavras o silencio primordial, enquanto não descrevermos esse gesto que rompe este silencio; a palavra é um gesto e sua significação um mundo"

    Citação do filósofo Merleau-Ponty.

    Uma criança que aprende a falar, um escritor que fala algo pela primeira vez há um ato único, um ato criador, eles transformam o silencio em palavra.

    No livro "A brincadeira" Milan Kundera (escritor), fala das pessoas que se entendem pelo silencio, para demonstram seu amor a Ludvik, a jovem Lucy colhe uma flor e oferece a ele, ela era pouco eloqüente e as flores foram à maneira que encontrou de falar:

    "num segundo pensar do simbolismo da antiga linguagem das flores, mas sim num sentido mais arcaico, mais nebuloso, mais instintivo, pré-linguistico, talvez tenha sempre preferido calar em vez de falar, busco sonhar com um tempo em que... não existindo palavras, as conversavam por meio de pequenos gestos, com o dedo mostrava uma arvore, riam, tocavam um ao outro."

    Debaixo de nossas roupas todos estamos nus, diz Comte-Sponville, a isso se chama estar vestido; e debaixo de nossas palavras cada um de nós é silencioso, e a isso se chama falar.

    Caetano Veloso numa canção particularmente poética fala daquela jovem para a qual as palavras e as roupas eram a mesma coisa, pois serviam para fechar o corpo, para não comunicar nada e, que no momento em que era preciso abrir novamente, revelará a mais pura sinceridade de seu amor, somente o silencio de seu corpo conseguiria traduzir toda a plenitude de seu sentimento.

    Musica: Clarice - Caetano Veloso
    http://www.vagalume.com.br/caetano-veloso/clarice.html

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  4. (Bem, termino por aqui (a leitora deve estar exausta de ouvir tanta tagarelice rs), o tema em si é interessantíssimo, os pensamentos e as referencias citadas são muito riquíssimas em aprendizado, da para aprender muita coisa através dos mais variados pontos de vistas além do nosso (eu particularmente aprendi muito do que ainda não sabia). Se a leitora tiver uma boa bagagem cultural, é um prato cheio... existem outras reflexões que gostaria de compartilhar baseado nos textos e/ou versos, mas essas vão levar mais tempo (devido a outras atividades envolvidas) entre elas estão: a construção do “eu” e sua critica na modernidade (“luz...”), Sobre falar merda (“e o que eu ganho e o que eu perco”), cultura da performance (“e o que eu ganho e o que eu perco”), tempo fragmentado (“tempo...”). A propósito, por que a autora não amplia mais suas perspectivas, dando horizontes além do subjetivismo (?), é possível ampliar mais as “janelas de pensamentos”)

    Por Thiago L.
    kisses in the heart

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