SEGUE-ME?

7 de junho de 2011

Não me pergunte...


Não me pergunte porque estou feliz, de bem com a vida,
Ou irritada, tão perto ou tão distante...
Eu simplesmente estou.
Não me encha de perguntas,
Já basta-me as minhas...
E há muitas delas que nem eu mesma sei responder..

É o meu jeito torto de ser.


[Naná]








7 comentários:

  1. Pretendo mostrar a partir de alguns recursos que encontro na historia da filosofia, elementos que os permitam refletir sobre o problema do medo e suas razões, mas que nos permitam também vincular o problema do medo ao tema da coragem, com isso parto da referencia de alguns autores que tem algo de particularmente importante para nos dizer. A primeira referencia vem de um filosofo moderno, ele que é o fundador do positivismo clássico, Auguste Comte, desse filosofo gostaria de tirar um extrato de um de seus temas filosóficos que talvez tenham tido maior fortuna critica ao longo da historia moderna e contemporânea, a saber, a sua celebre lei dos três estados de acordo com a qual a humanidade experimenta, produz e conhece ao longo do seu desenvolvimento histórico cultural, três grandes sistema de pensamento, três grandes métodos - que Comte por vezes chamava de filosofias -, que corresponderiam respectivamente à infância, a juventude e maturidade do gênero humano. Esses grandes sistemas seriam respectivamente o sistema teológico/religioso, o sistema metafísico e o sistema cientifico, de modo que o desenvolvimento tanto social, intelectual e moral da humanidade seriam marcados por essa lei.

    (obs.: lembrando que aquilo Comte reconhecia como a lei, a legalidade do desenvolvimento espiritual da humanidade é repetida em todos e cada um dos seres humanos, ou seja, que cada um de nós na infância é religioso, na juventude, metafísico e quando amadurecido, cientifico.)
    Esses sistemas são sistemas globais de interpretação do universo, são visões de mundo que nos oferecem uma totalidade explicativa para a existência do universo e a existência do homem no universo, mas porque Comte julga que a infância é necessariamente teológico-religiosa?

    Ele partia do principio de que a primeira interpretação global do universo e do ser humano no universo teria que necessariamente partir da única forma de causalidade que humanidade primitiva conhecia, isto é, criousse uma interpretação feita a partir da causalidade da nossa própria vontade - pois sabemos que muitas de nossas ações dependem da nossa vontade -, e como essa é a única forma de causalidade conhecida pelo homem no inicio de sua trajetória existencial, ele nada faz do que projetar essa forma de causalidade sobre o conjunto da natureza e interpretar todos os fenômenos dela como se esses fossem dependentes da vontade de entidades superpoderosas (os assim chamados Deus(es)) ou as força naturais, com efeito, a humanidade nascente povoa o universo de deuses e descobre um meio de entrar em contato com eles para dispor a sua vontade (ou a vontade deles) favoravelmente aos objetivos humanos. Esses meios podem vistos nas diversas formas de magia, feitiçaria, rituais, assim como a origem da mais primitiva da prece, que consistia justamente na “vantagem” incomparável que eles (os meios) ofereciam a humanidade de poder fazer contrato com o(s) Deus(es) de cujo arbítrio depende o curso da natureza - para dispô-las ao seu gosto,

    Mas, por que isso? Porque o homem é um animal naturalmente propenso a especulação ou um ser curioso?...

    Não, porque o homem é um animal com medo, com carências, com indigências que estão ancoradas tanto na sua condição fisiológica quanto na sua condição psicológica, dito de outro modo, por ele temer as forças da natureza, temer os outros homens e temer os animais e se encontrar em uma situação de exposição e abandono perante a uma natureza infinitamente mais forte do que a dele, ele, o homem, tem o medo ancorado na sua vida.

    Portanto, o que nós temos como razão de ser do primeiro sistema de interpretação global do mundo é uma necessidade pratica de fuga do medo e de fuga do sofrimento, e justamente a necessidade de fuga do medo e de fuga do sofrimento se torna no homem algo inventivo a ponto dele criar um sistema absolutamente coerente e exaustivo de cosmo visão.

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  2. Ora, o progresso da humanidade é a passagem progressiva de uma concepção teológico-religiosa da natureza, substituindo-a aos poucos por outra concepção: a metafísica. A concepção seria aquela que não mais recorre aos deuses, mas sim as forças naturais (como água, fogo, terra, ar) (não pessoais ou personalizadas) que possui qualidades ocultas - como se diz em jargão metafísico - que são exatamente as forças cósmicas descrita pelos filósofos pré-socráticos,

    Por fim, quando a humanidade adquire seu grau pleno de maturidade e desenvolvimento, tornando-se positiva, é onde agora, através da ciência, o homem consegue criar e estabelecer um (novo) grande e solido sistema global de interpretação do mundo que ira explicar a ele todos os fenômenos existentes (a partir das leis da matemática, da física, da astronomia, da química, da biologia, da sociologia, etc.).

    Assim, podemos dizer que por de traz da ciência existe a mesma coisa que existe por traz da religião: o medo e a fuga do sofrimento, o temor do desamparo, a necessidade de exercer um controle e um domínio sobre as potencias hostis da natureza, pois tanto o primeiro sistema de interpretação global quanto o mais refinado sistema de interpretação cientifica, obedece a uma mesma lógica, essa lógica pode ser resumida no seguinte enunciado cunhado lapidarmente por Comte: "saber para prever, prever para prover", isto é, através da antecipação por meio das diferentes teorias, há a possibilidade de ter controle técnico sobre os fenômenos de modo que eles possam suprir as necessidades humanas.

    Essa foi tese causou um profundo impacto por volta da segunda metade do século 19, e no século 20 ela encontra uma formulação análoga num outro autor, a saber, em Freud.

    Freud também se referindo ao animismo e a religiosidade dos primitivos no seu livro "totem e tabu" escreve o seguinte:

    “O animismo é um sistema de pensamento. Ele não fornece simplesmente uma explicação de um fenômeno específico, mas permite-me apreender todo o universo como uma unidade isolada de um ponto de vista único. A raça humana, se seguirmos as autoridades no assunto, desenvolveu, no decurso das eras, três desses sistemas de pensamento - três grandes representações do universo: animista (ou mitológica), religiosa e científica. Destas, o animismo, o primeiro a ser criado, é talvez o mais coerente e completo e o que dá uma explicação verdadeiramente total da natureza do universo. A primeira Weltanschauung humana é uma teoria psicológica. Iria mais além de nossos atuais objetivos demonstrar como grande parte dela persiste na vida moderna, seja sob a forma degradada da superstição, seja como a base viva de nossa fala, nossas crenças e nossas filosofias."

    Embora Freud não pense exatamente como Auguste Comte que fala em religião, metafísica e ciência, o psicanalista fala em animismo, religião e ciência, no entanto o esquema lógico permanece o mesmo, a ordem em que se dá essa sucessão é exatamente a mesma e, o mais interessante, a explicação motivacional é exatamente a mesma. Freud vai dizer mito desse elemento motivacional que deu origem ao animismo e a religião e que ainda continua presente mesmo no estagio mais avançado do nosso conhecimento cientifico:

    “A necessidade prática de controlar o mundo que os rodeava deve ter desempenhado seu papel. Assim, não ficamos surpresos em descobrir que, de mãos dadas com o sistema animista, existia um conjunto de instruções a respeito de como obter domínio sobre os homens, os animais e as coisas - ou melhor, sobre os seus espíritos. Estas instruções são conhecidas com o nome de ‘feitiçaria’ e ‘magia’. Reinach descreve-as como sendo a ‘estratégia do animismo’; eu prefiro (Freud), seguindo Hubert e Mauss, considerá-las a sua técnica.”

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  3. Aqui parece que nós podemos inscrever Nietzsche em uma linha de continuidade com essa maneira de se compreender a origem da religião, a origem da moralidade e a origem da ciência. Para expressa-lo valho-me de um de seus textos não publicado, um texto que ficou retido em seus fragmentos póstumos em que ele vai falar justamente do medo, esses texto é um esboço da gênese da religião e da ciência:

    “Religião, na economia anímica interna do homem primitivo prevalece o temor, prevalece o medo perante o mal. o que é o mal? três coisas, o mal é o acaso, o mal é o desconhecido, o mal é o súbito. como é que o homem primitivo combate o mal? ele o concebe como razão, como poder de uma pessoa, com isso ele consegue a possibilidade de fazer um contrato ela, e conquista a possibilidade de prevenir-se. outro recurso consiste em considerar a mera aparência da maldade. Interpretasse as conseqüências do acaso, do desconhecido e do súbito como algo bem intencionado, sensato, interpreta-se, sobretudo, o que há de ruim como um merecido castigo, em suma, a gente se submete ao mal, a inteira interpretação moral religiosa é apenas uma forma de submissão ao mal.”, "o mais insuportável não é o sofrimento, mas a falta de sentido do sofrimento, a dor da falta de sentido" (texto "razões aliviam")

    Portanto encontrar uma razão significa conjurar a falta de sentido e assim aliviar o sofrimento, razões, portanto são alivio.

    No entanto, caberia notar que além dessas constantes existem outras, pois o domínio alcançado sobre a natureza externa e interna também sempre esteve ligado à repressão, para que houvesse a possibilidade de construção de um sistema global de interpretação do mundo, ele, o homem, precisou dominar a natureza tanto fora quanto internamente. Através da repressão houve a possibilidade de inibição das suas forças puncionais e instintivas, houve a possibilidade de deslocamento das metas originarias de satisfação animal, assim a conquista da espiritualidade da humanidade aconteceu em detrimento da animalidade humana, em outras palavras, o preço pago pelo homem para que ele deixasse de ser um bicho e se tornasse um animal simbólico e político foi sempre a repressão da saúde animal, de modo que o homem pode ser definido por Nietzsche como um animal doente - e como você deve saber Freud não tem um entendimento diverso quando afirma que o preço a ser pago pela cultura é a neurose.

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  4. Avançando um pouco no tempo, já no mundo contemporâneo, tomemos o testemunho de Adorno e Horkheimer, na sua obra famosa "a dialética do esclarecimento". Nessa obra podemos encontrar uma atestação do que já foi dito até agora mas acrecenta algo mais.. Escrevem Adorno e Horkawener:

    “No sentido mais amplo do progresso do pensamento, o esclarecimento tem perseguido sempre o objetivo de livrar os homens do medo e de investi-los na posição de senhores. Mas a terra totalmente esclarecida resplandece sob o signo de uma calamidade triunfal. O programa do esclarecimento era o desencantamento do mundo. Sua meta era dissolver os mitos e substituir a imaginação pelo saber. Bacon, ‘o pai da filosofia experimental’, á havia reunido todos os seus motivos”.

    Essa passagem do esclarecimento termina exatamente com a frase aporética e paradoxal, pois o movimento do esclarecimento acaba por se converter no contraio de sua intenção original: “a terra completamente esclarecida brilha sobre o infortúnio triunfal”, ou seja, uma humanidade completamente esclarecida não é necessariamente uma humanidade livre e emancipada, mas ao contraio o que assistimos é uma regressão do espírito e uma espécie de retorno da barbárie (precisamos observar que esse foi escrito quando já se tava perfeitamente informada sobre os horrores do nazismo e do stalinismo).

    Outro ponto de vista que pode fortalecer o anterior pode ser encontrado em Heidegger que escrevia o seguinte:

    “Uma vez que o homem é a mais importante matéria-prima, pode-se contar que, com base nas pesquisas químicas atuais, serão instaladas algum dia fábricas para a produção artificial de material humano. As pesquisas do químico Kuhn, distinguido nesse ano com o prêmio Goethe da cidade de Frankfurt, já abrem a possibilidade de dirigir a produção de seres vivos machos e fêmeas planificadamente de acordo com as necessidades...”

    O filosofo detecta na tendência dominante do desenvolvimento da ciência e da tecnologia a possibilidade da engenharia genética e, portanto a produção técnica da vida humana - mesmo em escala industrial. Em outras palavras, quando há a possibilidade e o desenvolvimento da engenharia genética as tecno-ciências, mais do que clones ou réplicas, elas serão capazes de produzir super-indivíduos mutantes e poderosos, segundo as necessidades da técnica planetária, bem como terão os meios para produzir robôs inteligentes mais poderosos do que os próprios homens. Assim as tecno-ciências com seu poder avassalador deixaram de ser um instrumento e um meio de poder a serviço dos homens e se converteram em sujeito e potência autônoma, abocanhando o homem e convertendo-o em objeto e instrumento para seus fins.

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  5. Até esse momento tornasse claro que a ciência assim como a religião podem ser compreendida como uma modalidade, de fuga do medo e fuga do abandono premida pelo desamparo e pela insegurança. Mas se em Nietzsche (cujo autor irei me deter daqui em diante) existe certamente essa associação, por outro lado existe o que se poderia considerar também o inverso dessa mesma situação E para isso, gostaria de introduzir essa nova tese mediante a formulação de uma questão:

    Se de fato o resultado da nossa condição existencial tal como ela foi gerada até agora que visa emancipar o homem do medo e da ignorância, se nós de faro tornamo-nos hoje senhores e possuidores da natureza (aquilo que Descartes sonhava) a pergunta seria então: porque ainda nós sentimos medo? Do que é que nós temos medo?...

    Acho que aquilo que precisamente temos medo é daquela besta selvagem que habita em cada um de nós, isto é, temos medo, sobretudo, em face de uma nova figura que o humano possa adquirir na historia, contudo, possuímos sobejas razões para ter medo disso, ou seja, pois por sermos o animal mais longamente exposto a uma situação nítida de medo atávico, pressentimos como que por de traz da consciência que essa fera que habita em nós - até nos mais civilizado e espiritualizado de todos os homens -, é perfeitamente capaz de produzir coisas aterradoras. Parece que existe uma espécie de situação de temor diante daquilo que podemos fazer conosco mesmo, e é justamente essa situação que é alegoricamente tematizada por Nietzsche através de um dialogo de confronto entre personagens do livro "assim falou Zaratustra", que diz respeito à problemática da verdade e da ciência. São eles os personagens o “velho mágico”, “o escrupuloso espírito” (o homem de consciência) e o próprio Zaratustra.

    (fazendo aqui uma descrição geral)

    Em determinado momento aparece o velho mágico entoando uma canção de natureza nostálgica, romântica e edulcorada a respeito dos riscos, das aventuras e dos desafios que estão contidos pela nossa paixão pela verdade, a essa canção responde o escrúpulo de espírito (ele que é alguém que cultiva o mais alto grau de lealdade para com a verdade) ao velho mágico com as seguintes palavras:

    Olha não me venha com essa conversa nostálgica e romântica da verdade e das aventuras da vontade de verdade, afinal de contas a ciência e a religião é fruto do medo, "o medo esse é, com efeito, o sentimento fundamental herdado pelo homem. por medo explicasse todas as coisas, o pecado original e a virtude original. do medo também brotou a minha virtude que se chama ciência. Assim falava o homem de consciência;”

    (Zaratustra ciente da verdade do discurso do homem do escrupuloso do espírito, encontra em si aquilo que seria o antídoto contra essa sincera amargura, ele se encarrega então de mesmo concordando com o escrupuloso do espírito ironizá-lo, ironizá-lo para fazer agora uma outra confissão, mas agora como um canto de louvor ao aventurar-se no perigo. a resposta de Zaratustra ao escrupuloso de espírito consiste justamente num canto de louvor a coragem.)

    “mas Zaratustra que justamente quando voltava para a sua caverna e tinha ouvido e adivinhado suas ultimas palavras lançou ao homem de consciência um punhado de rosas e riu-se de suas verdades. Como? – exclamou - o que acabo de ouvir, ou tu pareces um louco, ou eu o sou, vou colocar de cabo a rabo a sua verdade, o medo, com efeito, é a nossa exceção, mas a coragem e a aventura, o gosto pelo incerto e pelo ousado, a coragem me parece ser a inteira pré-história do homem, aos animais mais corajosos o homem invejou e arrebatou todas as suas virtudes, só assim ele converteu-se em homem. essa coragem finalmente refinada, espiritualizada e intelectualizada, essa coragem humana com asas de águia e astucia de serpente, essa coragem parece-me que se chama hoje".

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  7. Em ultima analise, finalizo mostrando que o medo em Nietzsche tem duas faces, se por um lado somos colocados em um confronto direto com o perigo que pode brotar daquilo que podemos fazer conosco mesmo, e que agora não podemos mais delegar a responsabilidade sobre o que fazemos a si próprio a nenhuma figura de transcendência, por outro lado, há também um elogio da coragem. Pois você pode sublimar o medo em coragem, estes opostos não opostos em absoluto, é possível transitar de uma para outro, ou seja, não é preciso demonizar o medo porque ele é um sentimento brotado da carência e do desamparo, da insegurança, mas ao contrario, é possível atravessá-lo e transformá-lo por dentro para que ele vire no contrario daquilo que era grosseiramente.

    Todas as figuras do negativo (o sofrimento, a doença, a finitude, a morte, o mal, o pecado, absurdo, etc.) podem ser e ter condições para o seu oposto, em outras palavras, é a escuridão que permite a percepção da claridade da luz, a eliminação da dor e do sofrimento é também a esterilização do solo de onde pode aparecer uma autentica felicidade. Por exemplo, se você tem uma obra de arte bem acabada, se você tem uma obra completa, isso significa que você tem nessa criação uma totalidade que se encerra nela mesma o seu sentido, e não há nada que você possa acrescentar nem retirar sem destruir a obra, dizendo de outro modo, pois do mesmo jeito em que você não pode retirar nenhum movimento de uma sinfonia sem danificá-la, você também não pode retirar nenhum sofrimento da sua vida se não você também mata a suas alegrias. Pois uma vida empobrecida só tem lugar para o feio, enquanto que a transformação do horrível em algo belo produz alegria.

    Mas, para tanto, precisamos ser capazes realçar nossa relação com o tempo e com vida que possa ser tão plena e tão rica que nos permitisse desejar que todo o instante vivido pudesse ter o sentido de eternidade como um eterno retorno, isto é, precisamos afirmar a si mesmo na existência de tal maneira que nós não se arrependêssemos jamais de nenhum gesto, palavra ou pensamento feito em nossa vida, e que, portanto pudéssemos querer tudo o que aconteceu – em seus menores detalhes –, desde o começo até o fim, de novo e de novo repetido infinitas vezes num ciclo terno.

    (texto criado com base na apresentação de Oswaldo Giacóia Jr. a CPFL cultura em 2007)

    ...
    kisses in the heart

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