Lispector definiu divinamente o termo "saudade", metaforizando a clássica: "Saudade é como fome". E eis que eu, perturbada (pra variar), decidi descrever, desacumular essa redundância palpitando aqui no meu peito, essas retumbâncias que excisam o meu sossego:
Saudade é como fome!
Uma fome insaciável. Uma gula!
Saudade é um pecado.
Um pecado imortal. Uma sede descomunal.
Saudade é como aqueles perfumes que exalam um encantamento paranormal, que te fazem perder os parâmetros do chão e do céu, e quando você se dá conta já está intoxicado com o nocivo "fel doce".
Saudade é insônia mascarada de desejo, miscelânea de angústia, borboletas no estômago e gastrite nervosa.
Saudade é um bicho monstruoso que te devora aos poucos, te abocanha sem medo do tempo, e te estapeia impudica e descaradamente.
Saudade é doença, saudade é cura.
Saudade é a presença da ausência...
Saudade é querer e não poder...
Saudade é aquele vazio de se sentir impotente e longínquo, diante daquele íma que te puxa para uma direção ineloquente...
Saudade é quando se olha pela janela, e o céu está cinzento, e o vento está gélido, as aves do céu deixam de ser tão coloridas, e o quarto é o lugar onde o teto parece desabar sobre a sua cabeça.
Saudade tem o dom de parar o tempo.
Saudade sufoca!
Saudade me deixa louca, impaciente, tresloucada, desbocada, deslocada...
Saudade é a roupa que tu vestiu, meu bem, e se afigurou de protagonista dos meus pensamentos, dos meus dissabores, das minhas lacunas, das minhas interjeições estupefatas e melancólicas, do meu fastio desinibido, e das vozes emudecidas que ecoam nessa minha mente maculada, envolta à perquirições descabidas.
Minha missão inexequível é encontrar outro figurino para você...
... o ensaio já terminou, será que dá pra parar de se vestir da minha saudade e parar de viver cá dentro desse meu cerne coagido e descompassado, me deixando com as mãos trêmulas, os passos trôpegos, a visão turva, e somente isso e mais nada????
Você é a parte do meu ego que mais me confunde, que mais me aprisiona, que mais me puxa pra baixo, mas ao mesmo tempo me eleva com as lembranças de outrora.
Você é a parte mais irônica da minha vida, que eu tanto amo, mas que preciso, com toda a urgência do mundo, aprender a me esquivar de pensar, de sentir, de saber...
Minha saudade, nas entrelinhas, é um medo tremendo de não sentir mais saudades de ti.
Saudade é indefinível, é uma praga que nos acomete, puta sentimento intransigente, viu!
(Eu falei que saudade me deixa tresloucada... haha!)
(Naná)
26/06/2012
Nenhum comentário:
Postar um comentário
Comente: