SEGUE-ME?

2 de setembro de 2013

Ela..


Ela não era do tipo "gata", do tipo "doméstica". 
Não suportava a concepção das pessoas de que mulher nasceu para a submissão, que nasceu para servir, para agradar. 
Desde bem cedo optou pela companhia dos livros, e automaticamente apertou a tecla que sempre incomodou a muitos: a do senso crítico e do detalhismo. Preferia a "sujeira" da escrita, a corrosão do sentidos nas entrelinhas. 
Via a vida alheia, mas não via originalidade; olhava para a sua vida e enxergava liberdade. Um tipo de liberdade torta, é verdade, uma liberdade solitária e fora de moda. 
Acordava tarde, perdia-se nas horas, se olhava no espelho e sorria por ser dona de si mesma, mesmo que o "si mesma" não fosse nada... nada importante. Vestia as roupas que queria, usava salto-alto quando saía, mas se "descalçava" e desnudava quando voltava pra casa. Vivia mudando o playlist, odiava monotonia, e embora por fora fosse silêncio, por dentro ela era gritaria. 
Gostava do excêntrico, ignorava os esgares, afogava-os nos mares distantes da importância. Caminhava com as mãos firmes, os pés fixos, os olhos frios, causava um medo estranho de proximidade nas pessoas, talvez pela sua auto-afirmação, categórica e prática. 
Nenhum olhar de verdade conseguiu decifrar sequer uma parcela das suas entranhas. Ninguém sequer chegou perto. Diziam que ela tinha muralhas dentro de si e que ela precisava mudar. Diziam tanta coisa e tudo ao mesmo tempo, que ela optou pelo descrédito das palavras ditas sem a ciência da causa. 
Era um mundo solitário, onde ela conversava com os cadernos, às vezes brigava com os espelhos, mas era feliz sendo assim, "esquipática". 
O mundo era grande, mas ao mesmo tempo, pequeno demais para que ela coubesse nele, e era mais prático ficar no seu canto, com as suas manias, com os seus vícios, com o seu tudo e o seu nada. 
Se tinha algo que ela realmente gostava, era de estrelas, a única coisa que realmente a atingia, era a sensação de olhar para o céu... 

(Naná)
09/08/2013




Nenhum comentário:

Postar um comentário

Comente: