Ela não era do tipo "gata", do tipo "doméstica".
Não suportava a concepção das pessoas de que mulher nasceu para a submissão, que nasceu para servir, para agradar.
Desde bem cedo optou pela companhia dos livros, e automaticamente apertou a tecla que sempre incomodou a muitos: a do senso crítico e do detalhismo.
Preferia a "sujeira" da escrita, a corrosão do sentidos nas entrelinhas.
Via a vida alheia, mas não via originalidade; olhava para a sua vida e enxergava liberdade. Um tipo de liberdade torta, é verdade, uma liberdade solitária e fora de moda.
Acordava tarde, perdia-se nas horas, se olhava no espelho e sorria por ser dona de si mesma, mesmo que o "si mesma" não fosse nada... nada importante.
Vestia as roupas que queria, usava salto-alto quando saía, mas se "descalçava" e desnudava quando voltava pra casa.
Vivia mudando o playlist, odiava monotonia, e embora por fora fosse silêncio, por dentro ela era gritaria.
Gostava do excêntrico, ignorava os esgares, afogava-os nos mares distantes da importância.
Caminhava com as mãos firmes, os pés fixos, os olhos frios, causava um medo estranho de proximidade nas pessoas, talvez pela sua auto-afirmação, categórica e prática.
Nenhum olhar de verdade conseguiu decifrar sequer uma parcela das suas entranhas. Ninguém sequer chegou perto.
Diziam que ela tinha muralhas dentro de si e que ela precisava mudar.
Diziam tanta coisa e tudo ao mesmo tempo, que ela optou pelo descrédito das palavras ditas sem a ciência da causa.
Era um mundo solitário, onde ela conversava com os cadernos, às vezes brigava com os espelhos, mas era feliz sendo assim, "esquipática".
O mundo era grande, mas ao mesmo tempo, pequeno demais para que ela coubesse nele, e era mais prático ficar no seu canto, com as suas manias, com os seus vícios, com o seu tudo e o seu nada.
Se tinha algo que ela realmente gostava, era de estrelas, a única coisa que realmente a atingia, era a sensação de olhar para o céu...
(Naná)
09/08/2013
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