SEGUE-ME?

2 de dezembro de 2013

"Auto-Retrato"


O punho cerrado denotava e (alcançava) um incômodo alheio. 
A severidade despropositada no olhar atraía a repulsa. Mas a postura ereta era falha. Na realidade nunca sabia como se expôr, sentia-se indiferente ao mundo e não suportava ser notada, e a única maneira de sentir-se menos desconfortável era optando pela mudez e uma dose de estaticidade. O seu silêncio era uma espécie de muro que acobertava a timidez. 
Geralmente não sabia muito bem disfarçar a "órbita" das mãos, mas os olhos nunca desviava. Os olhos eram o que a sua boca calava. Os braços, entrefechados eram o medo camuflado. Os pés às vezes queriam alcançar um vislumbre incompreensível. Seus passos não passavam de linhas tortas desenhadas num chão coberto pelo tapete da incerteza, e havia descompostura no "timbre" dos joelhos, e no "acorde" da cintura. Seu corpo era como uma nuvem de tempestades interiores, um caos bailado... 
Não raramente, suas mãos construíam mundos solitários, quando desaguava as palavras como uma fonte de desambição.  Escrevia cartas com remetentes fantasmas, e os dedos trepidavam, dando início e fim à mais estórias canhestras, que infligiam a ética do amor próprio. As palavras eram, por vezes, guias inconvenientes que pressionavam os pulsos, desafiantes de mundos a serem desvelados. 
Vestia-se da "noite" para dormir, deitava no colchão da consciência hermética, cobria-se de utopias puras. Era tola e invisível por seu mérito, o único que tinha alcançado. 
Ela nunca tinha o tom exato de ser gente. 


(Najla Tirabassi) 
01/10/13



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